Michael Bay demonstra maturidade ao narrar história real
A filmografia de Michael Bay (Transformers 4: A Era Da Extinção) é marcada por explosões grandiosas e uma dose de patriotismo em frases de efeito e cenas melosas. Por isso, ele é a escolha certa para 13 Horas: Os Soldados Secretos De Benghazi, longa que narra o ataque sofrido por um posto diplomático dos Estados Unidos na Líbia, ocorrido em 2012.
Contudo, o que surpreende é que o cineasta mostra uma consciência nunca vista com um assunto dessa natureza.
O filme se inicia com a chegada de Jack Silva (John Krasinski, da série The Office), ex-militar contratado para prestar serviços de segurança para a CIA na Líbia pós-queda de Muammar Gaddafi. Ele se une a um grupo de outros cinco colegas, sob a liderança do amigo Tyrone (James Badge Dale, de A Travessia), que serão responsáveis pela defesa do local quando o tal ataque acontecer, alguns meses depois.
No passado, Bay tratava o Exército e outras instituições oficiais como a oitava maravilha do mundo. Em 13 Horas, há uma maior problematização, a começar pela figura do chefe da CIA (David Costabile, de Terapia De Risco), mais preocupado com sua vindoura aposentadoria do que com o trabalho em si.
E não poderia ser de outra forma, uma vez que a missão dos personagens seria muito mais fácil se a estrutura do Exército estivesse funcionando adequadamente. Assim, o diretor transfere o alvo de sua admiração para os homens e não a instituição, da mesma forma como Clint Eastwood fez em Sniper Americano (2014).
Essa consciência não quer dizer que Michael Bay tenha perdido a mão para cenas de ação. A tensão está presente em diversas cenas do filme, em preparação para o ataque que o espectador sabe de antemão que virá. Quando as tais horas as quais o título do filme se refere começa, aí o diretor esbanja a testosterona que vemos nos outros blockbusters sob seu comando. Há explosões e tiroteio para todos os lados e, sem as restrições castradoras do selo PG-13, muito sangue e corpos mutilados. A violência da guerra não é amenizada, mas funciona como ferramenta para engrandecer os personagens.
O que não se sabe é se a conscientização do diretor para essa nova guinada se deve a motivações pessoais ou econômicas. As guerras sujas nas quais os Estados Unidos se mete nos últimos tempos levou o senso comum para um outro lado. Já se sabe que a propagação da liberdade e demais valores estadunidenses só acontecem em terras de onde se pode retirar petróleo.
Outra possibilidade é que hoje em dia não é muito prudente realizar filmes apenas para as plateias domésticas. Ao contrário do que acontecia em décadas passadas, atualmente o mercado internacional responde por cerca de 70% da bilheteria de uma produção. Portanto, são necessários princípios mais universais do que apenas vangloriar sua terra-natal.
Seja qual for o motivo real, é inegável o aspecto positivo de que Michael Bay não rime mais patriota com idiota. Mesmo assim, o patriotismo está lá, em tomadas em câmera lenta da bandeira vermelha, azul e branca. Esses momentos beiram o piegas, mas são balanceados com oportunidades para que o outro lado da contenda também tenha sua versão apresentada, mesmo que brevemente. A conta fecha ao vermos que o antes onipotente Exército dos Estados Unidos agora é retratado como uma instituição falha, que deixa seus homens em situações perigosas por pura incompetência.
Por tudo isso, 13 Horas é de longe o filme mais maduro da carreira de Michael Bay.