24 CITY
Se Eduardo Coutinho é o mestre brasileiro na arte de brincar na fronteira entre documentário e ficção, Jia Zhang-ke vem se aprimorando na arte de derrubar a classificação de gênero cinematográfico.
Em Em Busca da Vida, o cineasta assinou uma ficção com cara de documentário, em seu novo longa, 24 City, Zhang-ke assina um documentário com cara de ficção. Mas, um alerta: o espectador não pode se perder apenas no deslumbramento do limite ficção/ documentário. O que 24 City traz na telona é potente o suficiente para pegar pela história, não apenas pela forma.
A cidade de Chengdu possui um conjunto de 420 fábricas que serão demolidas para a construção de um condomínio residencial de luxo. Essa breve sinopse já permite olhar para o retrato e presente da China, cujo comunismo instalado em 1949 foi derrubado para a instauração do capitalismo.
Mas esse é o subtexto. O diretor foca as histórias dos personagens. Cada um desenvolveu algum tipo de relação com o "420". A grande maioria é triste, como a da jovem Pequena Flor, cuja beleza não se traduziu em felicidade amorosa.
Zhang-ke não se importa em revelar quem interpreta e quem conta a verdade. Porém, assim como Eduardo Coutinho já havia feito em Jogo de Cena, não importa se é uma atriz ou quem viveu a experiência relatada. O grande barato não é quem diz, mas o que é dito.