A ALMA DO OSSO
É sempre uma rica experiência assistir a um filme do mineiro Cao Guimarães (Andarilho e O Fim do Sem Fim). Sua câmera se aproxima de personagens que, à priori, não tem a lógica do mundo “normal”. Desse contato entre ele e seu personagem, geralmente surge uma mise en scène diferenciada.
A Alma do Osso é mais um exemplo disso. Um homem que mora em uma caverna, guarda uma infinidade de latas, sacos numa falsa desordem. Faz café, cozinha com meia dúzia de gravetos, não sabe muito bem diferenciar o Real, o Cruzeiro e o Dólar.
O risco de ridicularizar um personagem passa longe de A Alma do Osso. Cao Guimarães desmonta o pensamento cartesiano e a noção de analisar e sintetizar. O personagem do filme não é um louco, ou desvairado, ou desequilibrado ou outros adjetivos. O personagem “é”, e para por aí.
Ele é aquele lado da mente de todos nós foge à lógica, ao catalogável. A solidão. Um sonho que interpreta para a câmera. Os filmes de Cao Guimarães fazem bem para o cinema, para o olhar, o sentir. Um brinde ao irracional.