A ENFERMEIRA BETTY
Depois de ser exibido na Mostra Internacional de São Paulo do ano passado, finalmente chega ao circuito comercial a divertida comédia A Enfermeira Betty, com Renée Zellweger no papel-título. Com muito humor e carisma, Renée interpreta uma garçonete de uma pequena cidade do interior do Estados Unidos. Ela encontra nas telenovelas a fuga ideal para tentar esquecer o seu péssimo casamento com Del (Aaron Eckhart), um fracassado vendedor de automóveis.
Esta fuga, porém, assume proporções impensáveis. Certa noite, ao mesmo tempo em que assiste à sua novela favorita, Betty presencia um violento assassinato que acontece dentro de sua casa. Realidade e ficção se misturam em sua mente. Levando sua fuga a limites extremos, Betty sofre uma espécie de colapso, passa a negar a realidade e se apaixona perdidamente pelo Dr. David Ravell (Greg Kinnear), ninguém menos que o seu galã favorito.
A simples garçonete se transforma então na “enfermeira” Betty Sizemore, uma personagem de novela disposta a tudo para reconquistar o amor de sua vida, o próprio Dr. Ravell. Totalmente confusa, a garçonete/enfermeira sai pelo país em busca da sua paixão perdida. Sem saber que os assassinos – na vida real – do crime que ela testemunhou estão em seu encalço.
Com muito humor negro, o filme ganhou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cinema de Cannes e mistura com precisão elementos de Tarantino e Woody Allen. A direção de Neil LaBute (que estreou no cinema com o polêmico Na Companhia de Homens) é precisa e tem o timming perfeito para uma comédia inteligente. Bem acima da média das comédias atuais.
Cínico e sarcástico, A Enfermeira Betty discute – como subtexto – a capacidade que a cultura norte-americana tem de misturar ficção com realidade, além de traçar o perfil de uma mulher disposta a tudo para conquistar o que deseja. Mesmo que seu sonho seja inconquistável.
Uma curiosidade: para dar mais credibilidade às cenas de novela (e não apenas fazer uma caricatura), o diretor contratou um grupo de técnicos e cameramen especializado nas chamadas “soap operas”, o equivalente norte-americano às nossas telenovelas.
27 de setembro de 2001
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Celso Sabadin é jornalista e crítico de cinema da Rádio CBN. Às sextas-feiras, é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br