A ESTRADA DA VIDA
Quando foi lançado no Brasil, nos anos 50, o filme La Strada, de Federico Fellini, ganhou o título de A Estrada da Vida. Agora, neste seu relançamento, o nome foi trocado simplesmente por A Estrada, talvez para que ninguém o confundisse com a famosa canção brega de Milionário e José Rico (que aliás também virou filme, mas esta é uma outra história)l
Faz bem à alma e ao coração rever A Estrada (da Vida?) agora em cópia nova. Ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1954 (além de uma baciada de outros prêmios internacionais), o filme fala de Gelsomina (Giuletta Masina, esposa de Fellini), uma mulher ingênua que é vendida pela própria mãe. O comprador é o grosseiro Zampanó (Anthony Quinn, soberbo) que cai na estrada com a garota comprada, encenando toscos espetáculos teatrais ambulantes. Entre ambos surge uma relação confusa e inesperada.
Toda a poesia de Fellini explode no magnífico preto-e-branco fotografado por Otello Martelli (um dos magos da luz do cinema italiano entre os anos 20 e 60) e na inebriante trilha sonora de Nino Rota. A vida sem rumo, os estranhos personagens que cruzam pelo caminho, a falta de perspectivas, tudo isso emerge com total sensibilidade no filme de Fellini. Um cineasta que, muito antes de qualquer produção americana cair no movimento Beat, já fazia o seu primeiro e autêntico road-movie. Não perca.
16 de janeiro de 2003
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Celso Sabadin é jornalista e crítico de cinema da Rádio CBN. Às sextas-feiras, é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br