A TETA ASSUSTADA
“A palavra deste ano é dor” é uma das frases mais importantes de A Festa da Menina Morta. Poderia ter sido dita, sem nenhum risco de deslocamento, em A Teta Assustada, o vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim.
O filme da peruana Claudia Llosa (Madeinusa) tem um pouco do ritual impresso por Matheus Nachtergaele e um outro tanto do bizarro e alegórico dos filmes da argentina Lucrecia Martel (La Mujer Sin Cabeza). Ainda acrescentaria a presença do tom documental de Fernando Solanas (Memória do Saqueio).
O que fazer com uma dor que é individual e coletiva, ao mesmo tempo? Como superar uma vida e um país devastado? Nesse mundo de questões, medos e silêncios vive Fausta (Magaly Solier), uma garota que tem a doença da teta asustada.
Há uma história conhecida entre os povoados indígenas peruanos de que as mulheres estupradas durante os anos 70 e 80 – conhecido como o período do terrorismo, em que guerrilheiros de esquerda se confrontaram com o poder oficial e os militares – transmitiam o medo durante a amamentação. As crianças cresceriam assustadas com tudo, sob ameaça psicológica de estupro.
Fausta é triste e desprotegida, já que sua mãe acaba de morrer. Terá de enfrentar sozinha seus demônios. A Teta Assustada acompanha sua jornada de dor. Fausta é também a metáfora dos conflitos andinos, entre os índios e os brancos. Um Peru, na visão de Llosa, cuja cultura indígena alimenta o erudito, mas não colhe os frutos por isso.
É um pequeno filme grande. Um entrelaçar de cenas que parecem triviais, porém carregam muitos sentimentos. Falta de liberdade. O único jeito é cantar uma canção, aquela que só as que tem o mal da teta asustada entendem.
Logo no início do filme, Perpétua (Bárbara Lazon), a mãe de Fausta, cantarola uma cantiga. “Vocês não sabem o quanto eu sofri”. Ela tem razão, realmente não sabemos. Mas A Teta Assustada estimula um dolorosa sensação de imaginar pelo que ela, e outras centenas de mulheres, passaram. “A palavra deste ano é dor”.