ACONTECEU EM WOODSTOCK
O que aconteceu mesmo em Woodstock? Um evento conectado às libertações e liberações dos anos 60, que abriu um hiato na História por três dias. Mas Ang Lee (Desejo e Perigo) põe o contexto para terceiro plano e traz ao espectador a história de um tal Elliot Tiber que, por sinal, veio a ser o responsável pela existência do festival.
Direto ao ponto: se você não tem a menor ideia do que se passou no Woodstock Music & Art Fair e das implicações que aquele evento teria nos anos seguintes, Aconteceu em Woodstock, 12º longa-metragem do diretor taiwanês não vai ajudar em nada. O amor livre e o embarque nos alucinógenos vão parecer um oba oba despropositado, desmedido e sem razão de ser.
Porém, se Woodstock não soa para você como um modelo novo de carro ou algo do gênero, é possível que a trajetória de Elliot seja um bom passatempo. O principal elemento que dá ritmo ao filme é o tom de ironia e auto-descoberta. O garoto é reprimido e boicota os próprios sonhos para ajudar os pais, dois velhos de mal com a vida.
Um humor, diga-se de passagem, construído em cima de clichês: a mãe judia pão-duro, o líder da trupe que não se abala com nada, o vizinho que se aproveita da situação. Porém, mesmo em cima de tipos e estereótipos, engraçado. Comicidade efêmera e despretensiosa.
Os momentos em que Ang Lee indica que pode mergulhar na atmosfera dos anos 60 focam as transformações de Elliot, até então um jovem reprimido, a alguém consciente da capacidade de guiar a própria vida. Com ar lúdico, a câmera substitui o olhar do personagem e passamos a seguir o mundo com sua visão lisérgica.
De resto, Aconteceu em Woodstock é um filme com o freio de mão puxado. O mergulho no excesso de cores e na revolução do comportamento dos anos 60 é feito pelas beiradas. Parece que Lee ficou tão preocupado em tornar Woodstock palatável e engraçado que se esqueceu de viajar na liberdade da história.