AINDA ORANGOTANGOS
O cineasta gaúcho Gustavo Spolidoro é conhecido graças aos 14 curtas-metragens que compõem seu currículo. Sua estréia na direção de um longa-metragem ocorre em Ainda Orangotangos, no qual desenvolve uma ousada proposta: realizar o primeiro longa filmado em um único plano-seqüência do Brasil. Aqui, ele retoma a Os Outros (2000) - curta de Spolidoro premiado no Brasil e no exterior - com personagens e atores que voltam ao seu universo cinematográfico.
Adaptação de seis contos do livro homônimo do escritor gaúcho Paulo Scott, Ainda Orangotangos mostra num único plano-sequência de 81 minutos 14 horas de um dia quente de verão, quando quinze personagens transitam pelas ruas e prédios de Porto Alegre.
Ao longo de uma semana de filmagens, o longa mobilizou cerca de 180 pessoas, espalhadas por um perímetro de 15 km na região central de Porto Alegre. A bela orquestração dessa equipe toda é conduzida de uma forma firme pelo diretor; por isso, o resultado inovador, criativo e bem-resolvido que temos na tela. Pela bela realização dessa proposta tão ousada, Ainda Orangotangos tem identidade única. Com personagens e situações que só poderiam ter saído mesmo da literatura - muitas delas beirando o bizarro -, o longa carrega consigo um frescor único e bem-vindo pelo cinema nacional. A câmera passeia de uma forma fluida entre os personagens que se revezam na tela, ao mesmo tempo em que o longa é capaz de transitar com a mesma fluidez pelo drama, a comédia e o suspense, sem perder a força em nenhum dos gêneros nos quais passeia.
Para os gaúchos, sempre é válido reconhecer na tela não somente o sotaque, mas também as locações nas quais o longa foi rodado, como a estação Trensurb, o Mercado Público e o Parque da Redenção. E, de fato, Ainda Orangotangos é um longa bem gaúcho, não somente pelos temas e locações, mas também pela excelente trilha sonora, composta por canções de rock-and-roll de bandas do Rio Grande do Sul. Mas, mesmo conservando esse "gauchismo", ainda é capaz de conquistar platéias universais pela forma sedutora como as tramas - que ocorrem paralelamente, vez ou outra se encontrando - são apresentadas na tela.
É um filme jovem, feito por uma nova geração de cineastas brasileiros, que tem tudo para atrair o público jovem e, definitivamente, é esse o tipo de produção que falta ao cinema brasileiro. Se depender de Ainda Orangotangos, essa turma ainda tem um bocado a dizer. Cabe aos espectadores prestarem atenção desde já.