ANTES QUE O MUNDO ACABE
Ser adolescente não é nada fácil. Fazer filmes sobre adolescentes também não é tarefa para qualquer um. Agora, fazer um filme sobre adolescentes, com ternura, humor, paixão e qualidade e, ainda por cima, estrear na direção de longas com ele, aí sim é dose pra leão. No caso, pra leoa: a gaúcha Ana Luiza Azevedo. Foi ela quem encarou o desafio de levar para as telas o livro Antes que o Mundo Acabe, do também gaúcho Marcelo Carneiro da Cunha. Desafio cumprido com louvor.
Ambientada no interior do Rio Grande do Sul, a trama é centrada em Daniel, garoto com problemas comuns a tantos milhões de adolescentes parecidos com ele: sua namorada pediu o famoso “tempo para pensar”, ele não sabe exatamente que vestibular prestar e seus hormônios estão em polvorosa. Para piorar a situação, Daniel começa a receber cartas de seu pai biológico, que sequer conhece. Esta história aparentemente simples e comum é conduzida de forma ao mesmo tempo segura e afetiva pela diretora.
Mesmo sendo estreante em longas, Ana Luiza tem boa escola, tendo sido assistente de direção de talentos como Carlos Riechembach e Jorge Furtado. Aliás, é o próprio Furtado quem co-assina o roteiro de Antes que o Mundo Acabe, ao lado de um grande time formado por Paulo Halm, Giba Assis Brasil e pela própria diretora.
Tudo flui com ritmo e equilíbrio. Assim, como na vida, há momentos de riso, choro, tensões, dúvidas e crises, permeados com sentimentos alternados de traição e amizade que se entrecruzam num roteiro inteligente que não abre espaços para maniqueísmos.
Todos os personagens são ricamente construídos, humanos, totalmente críveis e imediatamente passíveis de forte empatia perante o público.
Até um eventual excesso de narrações em off (problema que ultimamente tem contaminado o cinema) é amenizado pelo fato de boa parte deste texto narrado provir de cartas, sendo - portanto - mais “desculpáveis”, cinematograficamente falando, por assim dizer.
Vale dizer que todo este ótimo trabalho, conjunto de direção e roteiro, poderia ter sido comprometido pelos atores e atrizes jovens de pouca experiência. Não foi: o elenco é harmonioso, visivelmente bem preparado, contribuindo de maneira decisiva para a credibilidade dos personagens e das situações.
O resultado é um filme a que se assiste com muito prazer, um sorriso no canto dos lábios e uma lágrima no canto dos olhos.