ÁREA Q
O cinema brasileiro vem tentando fazer diferente, enveredando por gêneros em que ainda engatinhamos. A ficção científica Área Q, sobre ETs e abduções no interior do Ceará, é a mais nova empreitada a olhar adiante em busca de novos caminhos.
Nesta coprodução Brasil-Estados Unidos, um repórter americano (Isaiah Washington, da série Grey’s Anatomy) é enviado ao Brasil para investigar uma história sobre abduções e curas milagrosas. Em Quixeramobim e Quixadá, a Área Q do título, acaba por fazer descobertas que colocaram em xeque seu ceticismo de jornalista.
É bom ver um filme ambientado no interior do Nordeste cuja trama não seja protagonizada por vaqueiros num cenário de agreste povoado de reses magras e mazelas. A Quixadá mostrada no filme é uma cidade simples do interior do Ceará que, como outras tantas, flertam com a modernidade. E é neste pano de fundo distante das casas de pau-a-pique e de meninos desfilando barriga d’água que Eliosvaldo (Ricardo Conti), um nordestino boa praça e de inglês fluente, recebe o repórter Thomas Mathews e serve de guia para suas descobertas.
Num preâmbulo ambientado nos Estados Unidos, o espectador descobre que o jornalista teve sua vida transformada depois do desaparecimento de seu filho. A busca obsessiva por uma pista que pudesse explicar o sumiço do menino vira a vida de Thomas de cabeça para baixo. Ele está prestes a perder sua casa e seu emprego, por isso aceita vir ao Brasil, mesmo que a contragosto. Investigando as histórias sobre os avistamentos de alienígenas e abduções, acaba por conhecer João Batista, (Murilo Rosa, de Aparecida - O Milagre) um caboclo que virou lenda na cidade e cuja história traz muitas respostas sobre o que está acontecendo no local e, para surpresa de Thomas, sobre seu filho desaparecido.
O desenvolvimento da trama é simples e sem muitas nuances, mas é possível embarcar na história dirigida por Gerson Sanginitto. O roteiro dele em parceria com Júlia Câmara carece de diálogos bem elaborados, mas ao menos se encadeia a contento sem deixar a audiência perdida. Sanginitto, mais habituado a filmes de ação, não tem muito feeling para captar os momentos sensíveis da trama, deixando o longa carente de profundidade emocional. Os enquadramentos também não são os melhores. É nítida a falta de perícia do diretor em posicionar bem sua câmera.
Isaiah Washington e Murilo Rosa trabalham bem e, se não crescem na trama, é por culpa do roteiro limitador e da direção pouco hábil. A escolha equivocada é de Tânia Khalill como a repórter brasileira que flerta com o colega americano. A personagem é uma coadjuvante com importância no enredo, mas Tânia se revela pouco à vontade no papel - mal construído é verdade -, mas que a atriz não ajuda em nada a salvar da mediocridade.
Não foi desta vez que o cinema nacional acertou a mão num gênero pouco habitual por aqui, mas a tentativa é válida. Área Q não é um grande filme, tem seus defeitos e não são poucos, mas é capaz de entreter quem estiver disposto a viajar na história de extraterrestres de boas intenções no interior do Ceará.