AS VIAGENS DE GULLIVER (2010)
Pacifista e crítico aguerrido, o irlandês Jonathan Swift publicou em 1726 sua obra-prima, As Viagens de Gulliver, com a qual fustigou o belicismo inglês, a mediocridade que permeava a sociedade da época e o pensamento científico que não fosse voltado para o bem da população. A obra tornou-se um imediato sucesso e virou clássico, ganhando diversas adaptações para o cinema. A última delas é As Viagens de Gulliver, com direção de Rob Letterman e Jack Black no papel principal.
Esqueça a crítica ácida, a sátira, a estupefação diante do improvável, a fidelidade à trama original ou qualquer possibilidade da história ter sido bem vertida para os dias de hoje. Apagando-se tudo isso da mente é possível encarar o longa como uma sessão da tarde sem maiores pretensões, um filme tão pequenino ou mais que os habitantes da fantasiosa Lilliput.
Jack Black - que no filme interpreta com maestria Jack Black – é Llemuel Gulliver, um homem resignado preso a um trabalho enfadonho e de poucas ambições. Nosso Gulliver dos tempos modernos usa Iphone, joga Guitar Hero e alimenta um amor platônico por Darcy Silverman (Amanda Peet), a editora de turismo do New York Tribune .
Disposto a aproveitar oportunidade baseada numa mentira, é enviado ao Triângulo das Bermudas onde é arrastado por um turbilhão d’água e transportado para a quimérica Lilliput, sendo aprisionado por seus pequenos habitantes – talvez a única referência à história original. Um acontecimento, no entanto, o transforma em herói e passa a desfrutar da confiança dos habitantes da ilha.
Daí em diante o que segue são tentativas frustradas de se fazer humor, os maneirismos cansativos de Jack Black e lições de moral rasas como piscina de criança, que incluem acreditar sim mesmo, nunca desistir, não se conformar e jamais mentir.
Rob Letterman, que mostrou algum potencial com a animação O Espanta Tubarões, começou a descer a ladeira com o fraco Monstros vs. Alienígenas e, com As Viagens de Gulliver, sinaliza que mantém a trajetória descendente.
O filme chega às telas brasileiras na versão tradicional e em terceira dimensão, sendo esta última sem razão de ser. É a tecnologia 3D transformada em panaceia do cinema atual.
Em tempo: o momento “vergonha alheia” da produção fica guardado para o final, com um número musical antibelicista constrangedor.