BEM ME QUER, MAL ME QUER
Não se deixe enganar pelos primeiros minutos de projeção. Em sua primeira parte, Bem Me Quer, Mal Me Quer acena que vai ser o típico "filme gracinha". A bonitinha Angélique (Audrey Tautou, a revelação O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) é uma estudante de artes que vai com sua típica lambreta francesa até uma típica floricultura francesa pra mandar flores para o seu amor, o belo cardiologista Dr. Loïc (Samuel Le Bihan, de O Pacto dos Lobos). O médico é bem mais velho do que ela e - pior - é casado. Típico. Apenas mais uma história de amor contada pelo cinema francês? Nada disso. Em determinado momento, Bem Me Quer, Mal Me Quer dá uma reviravolta radical e segue por caminhos totalmente opostos daqueles que seus ingênuos primeiros minutos insinuaram. Melhor não dizer mais nada.
A jovem (27 anos) roteirista e diretora Laetitia Colombani consegue subverter os lugares-comuns do cinema romântico e, mais do que isso, brinca com a magia do cinema. Escancara diante do olhos da platéia as ferramentas que os cineastas têm à mão para contar suas histórias da maneira que melhor lhes convier: o corte, a montagem, a omissão. Sem subterfúgios traiçoeiros, Laetitia desconstrói o mito da Verdade, provando com muito talento que ela só existe mesmo nos olhos de quem a vê. Ou de quem acha que a vê.
Um belo roteiro. Não deixe de ver.