BEM-VINDO
Bem-Vindo é um filme triste, sobre um tema triste. Philippe Lioret não faz concessões a nós, os espectadores. Não nos permite o conforto e a alegria após a tempestade de sentimentos apresentada na tela.
O filme é um espelho da França contemporânea, cujo presidente, Nicolas Sarkozy, esbanja intolerância com a questão da imigração em um país que há anos vive um cabo de força no assunto. Acrescenta-se a isso a relação de amizade e cumplicidade entre um professor de natação, Simon (Vincent Lindon), e um imigrante iraquiano curdo, Bilal (Firat Ayverdi).
Por todo o filme, essas duas camadas se entrelaçam. Não há uma clara divisão de perspectivas, não é possível dizer que se trata de uma história de amizade tendo como pano de fundo a imigração. É mais que isso: uma dependência mútua desses dois universos, o sentimental e o político, o individual e coletivo.
Também é equivocado encarar Bem-Vindo como algo que busca passar uma mensagem. O filme está além, te traz para dentro dele, te abraça e, quando você acha que receberá conforto, a história desse adolescente iraquiano apaixonado que quer ir para a Inglaterra te arrebata com sopapos e mais sopapos.
Diferente, por exemplo, de Eden a L’Ouest, de Constantin Costa-Gavras, exibido em abril no Cine PE, que também aborda a imigração. Neste, o franco-grego diagnostica que o mundo está de cabeça para baixo, mas relembra a existência da arte e que a realidade ainda tem seu encanto. Ao passo que Philippe Lioret te suspende gradativamente em um mar de desapontamento e te deixa lá, estatelado, parado, lá no alto, pronto para despencar.
Ao mesmo tempo, a premissa de Bem-Vindo também é sinal da contemporaneidade, na qual um cineasta precisa trazer um personagem cuja ação política (proteger um imigrante) existe para atender a uma demanda individual (reconquistar o amor e o respeito de sua mulher). Sinal de que os realizadores precisam de “desculpas” ou “pretextos” para conceber temas políticos.
Lioret não busca fazer um filme-dogma sobre a imigração. Porém, seria impossível se furtar ao assunto (como Philippe Garrel o faz ao se dedicar aos “grandes temas”). Bem-Vindo, um dos premiados da seção Panorama do Festival de Berlim deste ano, é um filme que te arrasta para dentro de si.