BICHO DE SETE CABEÇAS
Depois de dirigir - em parceria com o marido Luís Bolognesi - o emocionante documentário Cine Mambembe, a cineasta Laís Bodanzky partiu para o seu primeiro longa-metragem de ficção: Bicho de Sete Cabeças. Uma estréia mais do que promissora.
O filme levou praticamente todos os prêmios no Festival de Brasília e causou sensação no de Recife. Com méritos.
Verdadeiro soco no estômago, a história fala de Neto (Rodrigo Santoro), um rapaz que assim como milhões de outros tem sérias dificuldades de se relacionar com seus pais (papéis de Othon Bastos e Cássia Kiss). Porém, o que poderia ser apenas um choque de gerações se transforma num drama de impensáveis proporções quando o intempestivo pai de Neto o interna num instituto para doentes mentais. É lá que o rapaz vai conhecer o verdadeiro inferno que é o sistema de "recuperação" adotado nos sanatórios brasileiros.
Baseado em história real, Bicho de Sete Cabeças é uma grave denúncia contra a situação dos doentes mentais internados pelo País. Ao mesmo tempo, trata-se de uma obra cinematográfica vibrante, com ótimas interpretações (Rodrigo Santoro está impecável, desfazendo totalmente sua imagem de galã de novela) e linguagem moderna e dinâmica. A câmera nervosa e agitada de Laís Bodanzky praticamente atira o público no universo do personagem principal, incomoda, transgride e realiza um cinema sem concessões.
O resultado é um filme inquietante, de preocupações muito mais artísticas e sociais que comerciais. Um trabalho diante do qual é impossível permanecer indiferente.
18 de junho de 2001
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Celso Sabadin é jornalista e crítico de cinema da Rede Bandeirantes de Televisão, Canal 21, Band News e Rádio CBN. Às sextas-feiras, é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br