BULLY
Novamente o diretor Larry Clark (o mesmo de Kids) desce ao submundo das drogas e da violência gratuita para radiografar uma sociedade podre em suas estruturas. Dessa vez, porém, este “submundo” está bem mais próximo de todos nós do que se poderia supor: a história – baseada em caso real de 1993 – acontece num bairro classe média alta no interior da Flórida. Mas poderia ser em qualquer outro canto urbanizado do planeta.
Balconistas de uma lanchonete fast food, Marty (Brad Renfro, o ex-garotinho de O Cliente) e Bob (Nick Stahl, de O Homem Sem Face) são dois adolescentes que cultivam uma doentia relação de amor e ódio homossexual. Uma relação que começa a assumir contornos dramáticos quando Lisa (Rachel Miner) se apaixona por Marty e passa a alimentar uma raiva destrutiva contra o arrogante Bob. Aos poucos, outros colegas e amigos vão se envolvendo neste perigoso triângulo amoroso que trará trágicas conseqüências para todos.
Filmado em apenas 23 dias, Bully é um painel triste e realista sobre o vazio de uma geração sem perspectivas. São jovens – quase crianças – que muito cedo buscam nas drogas, no sexo inconseqüente e na banalização da violência as falsas válvulas de escape para a falta de sentidos de suas vidas. Não por acaso é um filme escuro, denso, onde os pais são meros coadjuvantes e a autoridade policial só comparece quando é tarde demais. Inquietante e perturbador, longe de ser um mero entretenimento, Bully é um sinal de alerta que chama a atenção para o atual estado de degeneração e obviedade de uma geração que perdeu o rumo. Seja no interior da Flórida, da
Califórnia ou do Mato Grosso.
É como se as crianças de Kids tivessem crescido, e nada tivesse sido feito por elas. Como de fato não foi.
Curiosidade: o ator que interpreta o pai de Hitman é o próprio diretor Larry Clark.
18 de março de 2003.
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Celso Sabadin é jornalista e crítico de cinema da Rádio CBN. Às sextas-feiras, é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br