BURLESQUE
Sim, é um musical. Mas não daqueles à moda antiga, onde os diálogos são interrompidos de repente por canções, todo mundo saí dançando no meio da rua, e todos acham normal. Também não é um desses musicais criativos mais interessantes que às vezes são feitos modernamente, como Moulin Rouge e Chicago. Burlesque fica num meio termo: suas canções e danças fluem com facilidade (afinal, tudo acontece dentro de uma casa norturna), mas a trama é das mais simples e ingênuas. Tão simples e tão ingênua que surge como uma espécie de homenagem aos antigos musicais dos anos 50. Não é, mesmo, para levar a sério.
Burlesque marca a estreia na direção de Steve Antin, que já atuou em algumas dezenas de filmes e seriados de TV como produtor e roteirista, mas principalmente como ator. Antin também assina o roteiro do filme que, por sinal, não preza pela originalidade. Veja só. Alice (Christina Aguilera) é uma garota do interior que vai para Hollywood tentar a fama e a fortuna através de seus dois maiores talentos: o canto e a dança. Lá chegando, se encanta com a casa noturna que dá nome ao filme, apaixona-se pelo barman Jack (Cam Gigandet, o James da saga Crepúsculo) e consegue um emprego de garçonete, enquanto tenta convencer Tess (a eterna Cher, prestes a completar 65 anos), dona do lugar, a lhe dar uma opotunidade como dançarina e cantora.
Não são necessários mais do que, digamos, uns 8 ou 10 minutos para que o espectador “adivinhe” o que vai acontecer no final. Mas Burlesque não é um filme para se adivinhar o final. A proposta é apenas proporcionar pouco mais de uma hora e meia de puro entretenimento por meio de música, boas coreografias, sensualidade, humor, romance e diálogos saborosos, tudo isso costurado por esta tênue historinha de Cinderela. E tudo muito honesto: o filme não acena com nada além disso, é totalmente descompromissado, e cumpre o que promete no quesito diversão fácil. Um terror para os espectadores mais intelectualizados; um prato cheio para os escapistas.
Christina Aguillera solta o vozeirão, a direção de arte é das mais caprichadas, as músicas e as coreografias são competentes (por vezes, lembra-se de Bob Fosse), e uma montagem espertíssima se encarrega de amarrar o conjunto. Um bom time de coadjuvantes (com destaque para o sempre carismático Stanley Tucci, vivendo quase o mesmo papel que fez em O Diabo Veste Prada) também ajuda a manter o interesse pela história até o final… por mais que já se saiba o que vai acontecer.
Novamente como acontecia nas comédias românticas dos anos 40 e 50, os personagens disparam constantemente falas espirituosas que geram saborosos diálogos irônicos. É como se cada um deles tivesse um “personal piadista”, que proporcionasse este tipo de situação:
- Eu não vou jantar com você. Você está saindo com a Nikki.
- Não. Somos apenas amigos.
- Do lugar de onde eu vim, amigos não chupam as orelhas uns dos outros.
- Está feliz por ter se mudado?
Inverossímil, mas divertido. Como todo o filme, por sinal.