'Casa Gucci' funciona quando foca em Lady Gaga
Casa Gucci prometia ser uma história de crime e poder digna de O Poderoso Chefão, com muito mais glamour e diversão. Entretanto, funciona melhor quando o foco está no relacionamento conturbado de Maurizio Gucci (Adam Driver), diretor da marca, e Patrizia Reggiani (Lady Gaga), responsável pelo assassinato do executivo.
Com a escalação de Lady Gaga como Reggiani, parecia óbvio que a história se desenrolaria por seus olhos, mas não é o caso. A narrativa é dispersa e muda de foco diversas vezes, deixando de lado as questões emocionais do casal principal a fim de focar nos detalhes legais da mudança de donos da Gucci.
O longa brilha quando Ridley Scott apresenta a relação entre Patrizia e Maurizio, que se conhecem em 1970. Adam Driver interpreta um Maurizio agradável, que cai direitinho nas garras da esperta Patrizia de Gaga. O legal é que o amor entre o casal parece genuíno, embora também deixe claro os interesses de Patrizia. E, aos poucos, a trama se torna uma intrigante história de poder e cobiça.
Embora o charme do casal principal seja o grande atrativo do longa, muito da história é entregue a personagens secundários em cenas muitas vezes desnecessárias, que alongam um pouco o filme.
Com a necessidade de mostrar como a família Gucci deixou de ser dona da marca Gucci, os anos começam a passar rapidamente na trama e a relação do casal principal fica relegada a cenas isoladas. Com isso, o filme perde a chance de aprofundar as razões por trás do assassinato de Maurizio.
Sem dúvida existem muitos elementos interessantes nessas intrigas corporativas, mas as conspirações de dentro da Gucci não chegam a ter o mesmo apelo da relação entre Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani.
Em termos de atuações, o longa brilha graças ao elenco estrelado. Driver e Pacino são os mais convincentes, capazes de parecerem pessoas reais. Pacino está até mais comedido do que o normal, o que é ótimo, enquanto Driver sutilmente deixa o bom-moço Maurizio de lado conforme envelhece e se torna amargo. Essa mudança de tom é muito bem encarada e pode até garantir um Oscar ao ator.
Já Lady Gaga tem um início muito bom e, como esperado, é, capaz de roubar a cena e encantar. Entretanto, quando ela para de ser o foco da história, as suas participações se tornam menos inspiradas, até mesmo caricatas. Mesmo com esse problema perto do final, é bem possível que ela seja indicada ao Oscar de melhor atuação. Se vai ganhar, é outra história.
O que nos leva ao grande problema desse filme: Jared Leto, em uma atuação que não condiz com seu talento. O trabalho fantástico de maquiagem acaba desperdiçado pela forma caricata com que o ator conduz seu personagem. Não dá para saber de quem é a culpa aqui, dele, do roteiro ou de Ridley Scott, mas sua intepretação exagerada de Paolo fica muito abaixo do esperado.
Dito isso, é preciso apontar a qualidade técnica do longa, que possui fotografia inspirada, faz belo uso de luzes e sombras para acentuar as emoções dos personagens e apresenta cenários, figurinos e penteados cativates, capazes de capturar a atmosfera de glamour e decadência de cada década em que o filme se passa.
Embora não cumpra todas as expectativas, Casa Gucci é um filme intrigante, repleto de glamour, polêmicas e escândalos. Essa história merece ser vista no cinema, afinal, são 30 anos de história de uma das mais famosas marcas do mundo.
Sem falar que é impossível sair da sessão e não querer saber mais sobre essas pessoas reais, afinal, são intrigas e mais intrigas dignas de Hollywood. E todo mundo ama também um true crime, não é mesmo?