CECIL BEM DEMENTE
Não é fácil transgredir. Que o diga John Waters, considerado um dos cineastas mais transgressores dos aos 70 e 80. Seu novo filme, Cecil Bem Demente, teoricamente idealizado para ser inconformista e revolucionário, nada mais é do que apenas mais uma comédia que chega ao nosso circuito. E, provavelmente, vai passar sem fazer muito barulho.
A intenção é até boa: contar a história de um grupo revolucionário comandando por um cineasta pra lá de alternativo (Stephen Dorf, o Demente do título), que seqüestra uma atriz assumidamente hollywoodiana (Honey, papel de Melaine Griffith) com a intenção de fazer um filme-panfleto contra os poderosos da indústria de cinema. Demente e seus capangas pregam o cinema underground, contra a técnica hollywoodiana, fora dos padrões estéticos estabelecidos pelo cinema americano e absolutamente revolucionário.
Pena que John Waters faça seu filme absolutamente dentro dos padrões técnicos estabelecidos pelo cinema americano e totalmente engajado na estética hollywoodiana. Até batida de automóvel em câmera lenta tem no filme. Isso torna Cecil Bem Demente, acima de tudo, incoerente. Um trabalho que prega uma coisa e faz outra diametralmente oposta. E pior: as piadas não se sustentam, as gags não “seguram” o roteiro e o que era para ser alternativo e independente se transforma apenas em tosco. Muito pouco para um diretor que já realizou filmes bem mais questionadores, como Pink Flamingos, Hairspray e Mamãe é de Morte.
Em tempo: o nome Cecil Bem Demente (no original Cecil B. Demented) é uma alusão ao megaprodutor e diretor Cecil B. de Mille, realizador de grandes produções na chamada fase áurea de Hollywood.
10 de abril de 2001
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Celso Sabadin é jornalista e crítico de cinema da Rede Bandeirantes de Televisão, Canal 21, Band News e Rádio CBN. Às sextas-feiras, é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br