CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS
Exibido na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes de 2005, Cinema, Aspirinas e Urubus é uma árida e tocante odisséia de duas pessoas, completamente opostas, no sertão nordestino, durante a década de 40.
Johann (Peter Ketnath) é um alemão que fugiu da segunda Guerra Mundial. Foi parar no sertão brasileiro vendendo aspirinas. As pílulas, recém-lançadas por um laboratório alemão, são vendidas como remédios milagrosos. Percorrendo estradas poeirentas em um caminhão, o "galego" exibe filmes em um lençol a pessoas que nunca assistiram a uma projeção antes (situação não muito diferente do que aconteceu nas filmagens, mais de 50 anos depois). Fascinada, a população é facilmente convencida a adquirir as pílulas. Nessa epopéia, conhece o sertanejo Ranulfo (o ótimo João Miguel, premiado como Melhor Ator na 29ª Mostra BR de Cinema), contratado pelo estrangeiro para ser seu ajudante. Juntos, percorrem o interior do Brasil, tomando contato com diferentes culturas e formas de sobrevivência.
Os dois protagonistas fogem das mazelas de suas terras. No entanto, têm personalidades completamente diferentes. Enquanto Johann é mais quieto - conseqüência, também, da barreira lingüística -, Ranulfo não pára de falar. Ácido e hilário, o sertanejo conduz o alemão pelo sertão nordestino, apresentando a ele a cultura regional. Ao mesmo tempo, Johann apresenta a Ranulfo as possibilidades da cidade grande. Os dois sonham de forma oposta: enquanto o estrangeiro deseja embrenhar-se mais ainda no interior brasileiro, Ranulfo sonha em conhecer o Rio de Janeiro.
Filme de estréia do recifense Marcelo Gomes, Cinema, Aspirinas e Urubus leva o espectador a uma viagem ao árido sertão brasileiro. A luz é estourada, reforçando esse clima duro e seco da região. Além da fotografia, também merecem destaque as atuações, que ajudam a conduzir o espectador neste road movie composto por grandes contrastes que, juntos, dão a beleza simples e sincera a este filme.