CRUPIÊ - A VIDA EM JOGO
O veterano diretor inglês Mike Hodges (de Flash Gordon e Carter, o Vingador) ficou oito anos sem filmar para o cinema, trabalhando apenas com televisão. Seu retorno à tela grande se deu em 1998 no intrigante Crupiê – A Vida em Jogo, filme que somente agora está chegando aos cinemas do Brasil.
A trama se centraliza em Jack (Clive Owen, de Assassinato em Gosford Park), um escritor frustrado que aceita um emprego de crupiê para não ficar sem dinheiro. Extremamente profissional e elegante, Jack é logo notado pelo seu chefe e pelos colegas de profissão, já que segue à risca todas as regras dos cassinos. Principalmente a mais importante delas: não jogar. Porém, se profissionalmente Jack é impecável, na sua vida pessoal ele joga friamente com os sentimentos de todos que o rodeiam. Principalmente com os de sua namorada Marion (a ótima Gina McKee, que depois faria Um Lugar chamado Notting Hill e Joana d´Arc de Luc Besson). A princípio, Jack acredita que trabalhar num cassino o colocaria numa privilegiada posição de observador onisciente das fraquezas humanas. E isso poderia render material para um bom livro, no futuro. Mas quanto mais ele sai da posição de mero observador e entra na de agente, mais ele perde seu suposto controle da situação. E mais sua vida toma os caminhos inesperados de uma roleta. O jogador forçosamente terá de aprender a ser manipulado.
Crupiê tem um estilo de direção britanicamente sóbrio e envolvente. Coerente com o personagem título, que também de maneira sóbria arma as suas arapucas e envolve as pessoas que o cercam. O roteirista Paul Mayersberg (autor também do roteiro de Furyo, Em Nome da Honra) arquiteta a história com a mesma classe e sofisticação falsificadas de um cassino decadente.
Deliciosamente cínico e tristemente cruel.
22 de abril de 2002
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Celso Sabadin é jornalista e crítico de cinema da Rádio CBN. Às sextas-feiras, é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br