DEPOIS DA TERRA
Após duas horas de um deprimido Jaden Smith correndo em pânico e jogando pedras contra macacos sem um pingo de credibilidade, fica claro que Depois da Terra não é nada além de um presente para um garoto rico de Hollywood. Afinal, carros luxuosos se tornaram comuns, por isso Will Smith decidiu dar a seu filho um blockbuster de verão.
O cineasta M. Night Shyamalan não acerta há algum tempo, então não chega a ser surpresa sua história sobre pai e filho não agradar. A novidade é a falta de reviravoltas na trama, marca registrada do diretor, e que poderia deixar Depois da Terra menos sonolento.
O enredo, criado a partir de uma ideia de Will Smith, é ambientado mil anos após os humanos abandonarem a Terra. Estabelecidos no planeta Nova Prime, encontram um terrível inimigo, os Skrel, que consideram o local sagrado, e criaram monstros chamados Ursas para caçarem pessoas. Em meio a isso, o cadete Kitai (Jaden), filho do legendário general Cypher (Will), tenta se aproximar de seu pai após anos separados pela guerra, porém, na primeira viagem juntos, caem na Terra.
O pano de fundo é muito mais interessante do que a trama do filme em si. Tudo bem que, nesses mil anos, a Terra se tornou um local inóspito e com animais gigantes e violentos, mas além do monstro que estava na nave, não existe perigo real para o garoto - isso fica claro desde o começo. Faltam coadjuvantes para serem mortos e deixarem as coisas tensas, como acontece em Alien – O Oitavo Passageiro ou Predador, por exemplo.
Em muitos aspectos, Depois da Terra parece um videogame, no qual o herói precisa chegar ao final para recuperar um item escondido, atravessando fases diferentes e lutando contra chefões. Curiosamente, um dos roteiristas, Gary Whitta, é um veterano jornalista de games que já trabalhou até no site IGN. Entretanto, mesmo um jogo de ação precisaria de mais emoção para nos deixar intrigados.
É difícil se divertir quando nada realmente acontece, além de pai e filho resolverem diferenças por rádio a quilometros de distância um do outro. As discussões são feitas sem interação dos atores, que olham para o nada enquanto soltam suas falas. Embora Zoë Kravitz e Sophie Okonedo tenham pequenas participações como mãe e irmã de Kitai, o longa tem apenas dois personagens relevantes e um deles não sai da nave em nenhum momento.
Além disso, tecnicamente nada impressiona. Alguns efeitos parecem ter sido feitos às pressas e estão mais para aqueles vistos em séries de TV. Ao menos, o visual assustador das Ursas vale a pena. A direção de arte, por sua vez, exagera na temática "sustentável", que foi pedida por Jaden Smith, e cria ambientes teatrais, compostos basicamente de tecidos brancos - nada práticos. Somente a roupa de sobrevivência usada pelos protagonistas é realmente interessante.
Depois da Terra não é o pior filme de Shyamalan, não que isso seja grande coisa se considerarmos seus últimos trabalhos, mas não consegue empolgar nem por um minuto. O melhor desta ficção científica é deixar as coisas simples e não colocar o destino da civilização nas mãos do protagonista. Seguindo essa lógica, as coisas poderiam funcionar, era só o cineasta seguir o exemplo de longas intensos, como Dredd, interessante mesmo ambientado apenas dentro de um único prédio. Para os fãs de sci-fi, o mais triste é ver um universo com tanto potencial ser desperdiçado nesta fraca produção.