DRIVE (2011)
Em tempos de barulheira veloz e furiosa, Drive soa como sinfonia aos ouvidos. Isso fica claro na sequência de abertura do longa, quando o personagem de Ryan Gosling presta seus serviços de piloto de fuga a dois ladrões que acabam de roubar um armazém de Los Angeles.
Localizados pela polícia, que começa a persegui-los em carros-patrulha com apoio de um helicóptero, o motorista sem nome dá início a um jogo de xadrez sobre rodas que dispensa os sonoros cavalos de pau e a alta velocidade de praxe. Nada de capotagens, de carros de polícia de cabeça pra baixo com sirenes desafinadas. O xeque-mate ocorre no interior de uma movimentada garagem e é dado por um jogador frio, sem alarde, sem barulho.
Este personagem, um tipo de calma desconcertante e poucas palavras, nos remete a um arquétipo bem explorado em Hollywood por décadas: o homem de olhar triste e ambiguidade perturbadora carregando mistérios indecifráveis em sua alma. E Ryan Gosling e seu carisma tímido são muito bem explorados pelo diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn (O Guerreiro Silencioso), vencedor do prêmio de Melhor Diretor em Cannes. Como o escorpião estampado em sua jaqueta, o piloto não pode fugir de sua natureza, e ela o conduz a um final de alta tensão.
Dublê de cenas com carros em Hollywood durante o dia, ele trabalha à noite como motorista profissional de fugas no submundo do crime. Depois de tentar ajudar o marido de sua atraente vizinha Irene (Carey Mulligan), torna-se alvo de perigosos criminoso de Los Angeles. Para livrar Irene e seu filho da fúria dos bandidos, sua única opção é fazer o que sabe de melhor: dirigir.
Passado supostamente nos dias atuais, Drive tem ambientação estética e musical com cara dos anos 80. A trilha sonora possui diversas músicas de Cliff Martinez, que hoje é compositor de trilhas sonoras, mas já foi baterista da banda californiana Red Hot Chilli Peppers. O resultado se alinha perfeitamente com o filme, em todas as sequências, revelando não apenas a tensão visual, mas também sonora de algumas cenas. Por último, a fotografia evocativa de Newton Thomas Sigel dá o tom retrô e faz a audiência mergulhar no mundo dos filmes de carros que marcaram épocas passadas.
Drive, injustamente desprezado pelo Oscar, é verdadeiramente uma das joias de 2011. Refn é parcimonioso com as imagens como seu protagonista é com palavras e leva ao público uma produção mais que bem-vinda num momento em que parece obrigação ruminar tudo à exaustão para o público.