JASON BOURNE
Não tem jeito. Matt Damon nasceu para ser Jason Bourne. Apesar de negar-se a encarnar o personagem pela quarta vez – que resultou no insosso O Legado Bourne, com Jeremy Renner como protagonista – o ator retorna ao papel com mais vigor do que nunca.
Na trama, Bourne ganha a vida como lutador de rua por uns trocados. Mas seu passado volta a assombrá-lo depois que a hacker e ex-agente da CIA Nicky Parsons (Julia Stilles) descobre indícios do envolvimento de seu pai no treinamento que o levou a se tornar um exímio assassino. Os dois se encontram na Grécia, em meio a um tumultuoso protesto, mas acabam sendo alvos do presidente da agência, vivido por Tommy Lee Jones, e pelo antagonista da vez, um agente vivido por Vincent Cassel, que querem impedir a revelação desse segredo.
Quem conhece o trabalho do diretor Paul Greengrass, deve já ter percebido que a câmera trêmula (shaky Cam) é uma de suas marcas registradas, como podemos conferir em Zona Verde e Domingo Sangrento. Em Bourne, a câmera acompanha a ação como numa perseguição em tempo real, com imagens agitadas e cortes rápidos, que aumentam ainda mais o realismo das cenas e a adrenalina nos espectadores. Apesar de não ser esteticamente belo, esse efeito não compromete a história, pelo contrário, é um bônus para filmes do gênero.
Em termos de originalidade, a narrativa não traz grandes novidades e mantém a mesma identidade dos outros filmes, já que continua girando em torno de Bourne sendo perseguido, entretanto consegue tornar o cenário mais interessante ao partir para um lado mais político, citando o caso de Julian Assange - ciberativista australiano fundador do WikiLeaks - e debatendo sobre confidencialidade e os limites que as instituições governamentais devem ter sobre as informações de terceiros.
Apesar de afirmar que a "idade pesou", Matt Damon mostra disposição e muita energia nas cenas de ação. A passagem do tempo também é refletida no comportamento de Bourne, que aparenta estar mais maduro e centrado em seus valores, apesar de toda a "lavagem cerebral" que sofreu.
A personagem de Alicia Vikander, a agente da CIA, Heather Lee, é uma adição muito bem-vinda à série. Além de advogar pela liderança feminina, sua personagem mostra-se sempre confiante em sua posição ao encabeçar a missão de encontrar Parsons e Bourne. Pelo possível gancho no desfecho do filme, seu papel deve ser fundamental no futuro da franquia.
Paul Greengrass entrega ao público saudosista tudo o que ele espera. Jason Bourne tem cenas de ação arrebatadoras, roteiro consistente e de fácil assimilação, boas atuações e um tom político muito propício. Isso mostra que, mesmo após tantos, nunca é tarde demais para revitalizar um clássico.