KADOSH - LAÇOS SAGRADOS
Duas mulheres torturadas pela ignorância religiosa: Rivka, casada há dez anos, não consegue engravidar, o que é uma desgraça para a comunidade de judeus ortodoxos onde ela vive. Por sua vez, Malka, irmã de Rivka, está sendo pressionada a se casar com um homem que não ama, para melhor atender aos interesses religiosos desta mesma comunidade.
Mais velha, Rivka sofre, mas é resignada aos ensinamentos do Torá. Sua irmã, porém, não se conforma com a situação, e considera com seriedade a possibilidade de abandonar tudo e conhecer "o mundo lá fora", como ela mesma diz.
Co-produzido entre França e Israel, Laços Sagrados é um filme para um público bastante restrito. Poucas pessoas fora da colônia conseguirão acompanhar com interesse esta trama arrastada e anacrônica (pelo menos para quem não é judeu ortodoxo) sobre valores que parecem muito distantes da realidade.
Na maioria das vezes estática ou, quando muito, realizando lentos e preguiçosos movimentos, a câmera do diretor israelense Amos Gitai opta por enquadrar os personagens quase sempre em planos médios, sem closes, causando um frio distanciamento entre a ação e a platéia. Sempre contida, a emoção jamais explode. Entala na garganta.
Este estilo gélido de filmar pode até ser proposital. Talvez com isso o diretor pretenda ressaltar exatamente a imobilidade de Rivka contra as leis e normas que a oprimem. Talvez Amos Gitai queira, com este distanciamento cinematográfico, expor o próprio distanciamento humano que determinados grupos religiosos impõem contra os seus praticantes. Talvez. Em teoria, é tudo muito bonito. Na prática, porém, Laços Sagrados é um filme difícil que toma emprestado um pouco de cada país que o produz: ele é arrastado como o cinema francês e árido como os desertos de Israel.
05 de setembro de 2000
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Celso Sabadin é jornalista especializado em cinema desde 1980. Atualmente é crítico da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, e do Canal 21.