MAR EM FÚRIA
Apertem os cintos. O roteiro sumiu! Na ânsia de exibir para o mundo inteiro as mais recentes tecnologias de efeitos especiais, os produtores de Mar em Fúria deixaram em segundo plano um “detalhe” dos mais importantes: um bom roteiro. O filme parece uma fita demo de software. Tipo “veja o que eu consigo fazer: uma tempestade gigantesca”. Só esqueceram que cinema, antes de tudo, é uma história bem contada.
Mar em Fúria começa repetindo os mesmos clichês dos filmes-catástrofe dos anos 70: vai mostrando aos poucos um pouco da vida pessoal de cada personagem que participará da tragédia. Claro. Se o público não se identifica com este ou aquele personagem, ele não consegue torcer pelo destino de cada um, durante a tempestade. Clássico.
Os clichês são tão gritantes que não falta sequer aquela velha história dos marinheiros que são inimigos antes de embarcar e - na hora do perigo – um salva a vida do outro. Nada mais antigo.
A história é baseada num caso real ocorrido no Dia das Bruxas de 1991. Naquela ocasião, condições meteorológicas ímpares formaram um mega tempestade nunca vista antes, a “perfect storm” do título original. A borrasca pega, no meio do caminho, um barco pesqueiro comandado pelo obstinado capitão Billy Tyne (George Clooney). E só. O resto é água pra cá, água pra lá, o barquinho vai, o barquinho vem...
O diretor alemão Wolfgang Petersen já fez coisa muito melhor, como O Barco – Inferno em Alto Mar e História Sem Fim, ambos do seu período europeu. Artisticamente, Mar em Fúria é pobre. Comercialmente, porém, é riquíssimo: custou 120 milhões de dólares e faturou – até a semana passada – 170 milhões só nos EUA.
24 de agosto de 2000
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Celso Sabadin é jornalista especializado em cinema desde 1980. Atualmente é crítico da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, e do Canal 21.