MATER DEI
O colunista da revista Veja, Diogo Mainardi, é conhecido pelo mau humor de seus textos e pela forma azeda como vê o mundo. Desta forma, não é de se estranhar que em seu primeiro trabalho para o cinema, Diogo escreva justamente um roteiro amargo... contra o próprio cinema. Assim é Mater Dei, produção brasileira realizada em vídeo digital que conta a história de dois irmãos: Vinícius (Gabriel Braga Nunes) e Diogo (Dan Filip). Ambos estão em busca de um financiamento para a realização de um longa-metragem e acabam se envolvendo com uma violenta guerra particular entre um juiz e uma empreiteira. Os personagens Vinícius e Diogo (não por acaso, os mesmos nomes dos irmãos Vinícius e Diogo Mainardi, respectivamente diretor e roteirista de Mater Dei) se envolvem com uma bela mulher (Carolina Ferraz), pivô de uma tragédia anunciada envolvendo seu filho que ainda está para nascer.
Mater Dei tenta imprimir à narrativa um tom de farsa, de paródia contra os próprios mecanismos do cinema brasileiro, mas morre na praia das intenções. A trama não decola e o filme mantém permanentemente um sabor de produção caseira. Excessivamente verbal e descritivo, o roteiro tem estrutura fraca, enquanto a fotografia busca sempre um olhar turístico sobre a cidade de São Paulo. Realizado totalmente com recursos privados, sem o apoio de nenhuma lei de incentivo estatal, Mater Dei deixa muito a desejar.
O toque patético fica por conta da revista Veja, que sempre voltou suas metralhadoras giratórias contra os filmes brasileiros e na edição desta semana dedica uma página inteira ao fraco Mater Dei, só porque seu colunista é roteirista do filme. Coisa feia, não?
12 de novembro de 2001
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Celso Sabadin é jornalista e crítico de cinema da Rádio CBN. Às sextas-feiras, é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br