MUDBOUND - LÁGRIMAS SOBRE O MISSISSIPI
O racismo ainda é uma ferida aberta na sociedade estadunidense. Por isso, fazer um filme com essa temática requer muita sensibilidade e bom senso, algo que a diretora Dee Rees conseguiu alcançar de forma exemplar.
Baseado no livro homônimo de Hillary Jordan, Mudbound - Lágrimas Sobre O Mississipi retrata conflitos raciais no "Deep South" na década de 40. A região sul dos Estados Unidos é reconhecida pelo histórico intolerante e por ser o berço de movimentos reacionários como o Ku Klux Klan, que prega a supremacia branca e foi responsável por capturar, agredir e até mesmo assassinar afro-americanos.
A trama se passa numa região rural e mostra duas famílias - uma negra e outra caucasiana - que convivem na mesma propriedade, no delta do Rio Mississipi. Em meio a diferenças sociais e a discriminação, uma forte amizade surgirá entre o jovem Ronsell Jackson (Jason Mitchell) e o rebelde Jamie McAllan (Garrett Hedlund).
Ronsell e Jamie lutaram juntos no exército e mesmo em meio aos horrores da guerra eram tidos como iguais. Entretanto, a volta para casa mostra que nada mudou na provinciana cidade em que vivem.
Além das críticas ao racismo e ao privilégio branco, o longa consegue englobar também discussões pertinentes sobre o machismo, ao retratar a hierarquia de gênero exemplificada pela relação desigual de Laura (Carey Mulligan) e Henry (Jason Clarke).
Mary J. Blige entrega uma atuação emocionante e visceral como Florence, uma mãe que luta para que seus filhos ultrapassem as barreiras impostas pelo preconceito, mesmo sabendo que às vezes é preciso dançar conforme a música dos opressores para se manter vivo.
Esteticamente, o filme também é digno de elogios. A fotografia feita por Rachel Morrison é de encher os olhos e foi merecidamente indicada ao Oscar.
Mudbound - Lágrimas Sobre o Mississippi consegue abordar temas relevantes e atemporais com uma carga emocional impressionante, mas sem ser excessivamente apaziguador ou apolítico. Mesmo mostrando que a máxima "um fruto não cai longe de sua árvore" nem sempre é verdadeira, o longa não deixa de mostrar o lado mais brutal da intolerância.