NÃO SE PODE VIVER SEM AMOR
Vários personagens se encontram e se perdem pela noite carioca, poucos dias antes do Natal. O garoto Gabriel e a trintona Roseli tentam encontrar o pai do menino, que os abandonou. Durante a busca, seus destinos se cruzam com estranhas figuras urbanas como o advogado João, um jovem desempregado e desesperado. Ou Pedro, um homem que precisa decidir entre a esposa e a profissão. Ou mesmo a dançarina de boate Gilda, que sonha em abandonar a cidade.
Outras figuras vão se unir a estes outsiders formando um estranho painel de uma noite bizarra percorrida por ruas e becos de um Rio de Janeiro bem diferente dos postais zona sul que a mídia costuma vender ao público. O elenco chama a atenção: Cauã Raymond, Ângelo Antônio, Simone Spoladore, Fabíula Nascimento, Rogério Fróes, Babu Santana e Maria Ribeiro.
O resultado é Não se Pode Viver Sem Amor, um filme perdido. Não, o adjetivo não representa exatamente um problema, parecendo mais ser uma questão de estilo. Ou seja, se o filme se propõe a contar as trajetórias aparentemente sem direção destes personagens à deriva que se perdem pela noite carioca, passa a ser uma opção interessante narrar estas mesmas trajetórias dentro de um estilo cinematográfico igualmente perdido.
Assim, o que à primeira vista pode causar estranheza à plateia – histórias mal costuradas, falta de consistência e lógica – deve merecer uma análise mais cuidadosa por parte da crítica. Afinal, o crítico não se pode render à primeira análise. Ou não deveria, Pode-se inferir que o diretor chileno radicado no Brasil Jorge Durán (Proibido Proibir) tenha emprestado à sua narrativa justamente a estranheza e a desestruturação do universo que pretendeu narrar.
Obviamente quem prefere o cinema de dramaturgia e narrativas clássicas não vai gostar nem um pouco de Não se Pode Viver Sem Amor. Mas vale a provocação.