O DESPREZO
Mais um título clássico de Jean-Luc Godard que reestréia nos cinemas brasileiros, graças à política de relançamentos do Grupo Estação. Depois de exibir cópias restauradas dos mais importantes trabalhos de François Truffaut, agora o Estação volta as suas atenções para Godard, o que é, no mínimo, uma boa oportunidade de apresentar o polêmico cineasta para as novas gerações.
Neste final de semana, volta à telona o drama O Desprezo, ideal para quem curte filmes que têm no próprio cinema sua motivação principal. A história fala de Paul Javal (Michel Piccoli), um escritor que é contratado para trabalhar no roteiro de um novo filme. Não um filme qualquer, mas sim uma nada despretensiosa adaptação cinematográfica de A Odisséia, de Ulisses. E mais: o cineasta será o mito Fritz Lang (interpretado por ele mesmo). Porém, a esposa de Paul é ninguém menos que a estonteante Camille (Brigitte Bardot, no auge de sua carreira). Quando ambos chegam aos bastidores do mundo do cinema, Paul começa a sofrer de uma inevitável crise de ciúmes de sua bela esposa. Principalmente depois que ela aceita uma carona do produtor do filme, Jeremy, papel de Jack Palance. O abalo no relacionamento é inevitável.
Baseado no livro do escritor italiano Alberto Moravia e musicado pelo sempre competente Georges Delerue, O Desprezo é um filme da época em que Godard não era assim tão "Godard" como ele é ultimamente. Ou seja, trata-se de um trabalho mais digerível e menos hermético do chamado "enfant terrible" do cinema, na época, com 32 anos. Repare no anônimo assistente de direção que auxilia Fritz Lang: trata-se do próprio Godard, fazendo uma ponta, dando uma de Hitchcock.
16 de maio de 2002
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Celso Sabadin é jornalista e crítico de cinema da Rádio CBN. Às sextas-feiras, é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br