O PECADO DE HADEWIJCH
Religião, fé, fanatismo, sofrimento. São estes conceitos tão próximos e tão interligados que formam a estrutura básica de O Pecado de Hadewijch, produção francesa escrita e dirigida por Bruno Dumont. O cineasta foi alçado – prematuramente talvez – à condição de gênio logo em seu primeiro longa, A vida de Jesus (1997), amplamente premiado em festivais pelo mundo.
Dois anos depois levou o Grande Prêmio do Júri em Cannes por Humanidade e se fixou definitivamente no panorama cinematográfico internacional.
Em O Pecado de Hadewijch, Dumont centra sua história em Céline (Julie Sokolowski), uma noviça mais radical que suas próprias madres superioras. Como que num processo de eterna auto-flagelação, Céline não se alimenta, passa frio deliberadamente, e tenta expurgar um suposto sofrimento que o roteiro prefere não explicitar. Sua obsessão pelo sofrimento faz com que a garota seja convidada a se retirar do convento. Ela passa então a viver uma nova vida em Paris, onde faz amizade com dois rapazes muçulmanos.
Bem, esta é uma das leituras possíveis do filme. Pode-se ver também O Pecado de Hadewijch como a história de uma garota parisiense que se envolve com terrorismo, passa por um processo de culpa, e se “interna” num convento de freiras. Isto porque o filme apresenta alguns recursos estilísticos de montagem que, deliberadamente ou não, sinalizam uma história circular, sem necessariamente início e fim definidos. Seria um sofrimento ininterrupto provocado pela religião, seja ela qual for, onde a punição, a dor e o eterno arrependimento surgem como algozes.
É um filme de narrativa introspectiva, bem ao estilo francês, que prioriza a reflexão e o silêncio dentro de um tema duro e urgente, principalmente diante das crescentes notícias sobre intolerância religiosa que varrem a Europa em particular e o mundo em geral.
Um sinal de alerta para os perigos do fanatismo. Silencioso ou não.