O SAMBA
O francês Georges Gachot radicou-se no Brasil e é um apaixonado por nossa música. Em sua carreira, já dirigiu os documentários Nana Caymmi Em Rio Sonata (2010) e Maria Bethânia: Música É Perfume (2005). Em seu trabalho mais recente, ele continua no mundo musical, mas o tema é um gênero e não apenas um artista.
O Samba usa Martinho da Vila como mestre de cerimônias, porém o tema central é o estilo musical que ele defende. A função do sambista é parecida com a exercida por Dominguinhos em O Milagre de Santa Luzia (2008). Assim como no longa sobre sanfoneiros brasileiros, muito da vida e obra do apresentador se faz presente, mas como apenas um pequeno presente para os fãs deles.
Além de guiar o filme, Martinho serviu como chancela para que o diretor pudesse adentrar no mundo do samba. Assim, o documentário consegue cenas valiosas de barracões e dos bastidores das batucadas. Nos morros cariocas são captados depoimentos de anônimos, que falam de suas vivências com o samba e de canções marcantes em um dos elementos mais interessantes do filme.
Mas não é só de Martinho da Vila que vive a produção. Há depoimentos e participações musicais de grandes nomes da música brasileira, para além do samba. Ney Matogrosso, Leci Brandão, Paula Lima e Mat'Nália são alguns dos nomes que abrilhantam as cenas do documentário.
Em suas falas, as estrelas dão lastro ao filme, com temas importantes, como o preconceito que os sambistas sofreram (e ainda sofrem) historicamente, por exemplo. Já Martinho tem uma participação mais leve, como é de sua personalidade. Ele fala sobre a emotividade das canções e um pouco de sua experiência no samba e no Carnaval.
Apesar de estar nos lugares certos e com as pessoas corretas, Gachot não consegue escapar de imprimir um olhar gringo em O Samba. Essa característica se faz presente até nos enquadramentos escolhidos, mas é gritante quando Martinho explica para a câmera o que é chuchu (isso mesmo, o vegetal)- uma informação óbvia e totalmente desnecessária para o público brasileiro. Por essa razão, o filme faz muito mais sentido para iniciar estrangeiros no gênero musical do que reafirmar o amor em sambistas experientes.