O TURISTA
As provocações de Ricky Gervais na previsível cerimônia do Globo de Ouro foram certamente o mais interessante do sonolento evento. Porém, discordo da acidez do humorista britânico contra O Turista, charmoso suspense que marca a estreia do vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro - Florian Henckel von Donnersmarck, por A Vida dos Outros - na indústria norte-americana.
Gervais tem razão no exagero da indicação de O Turista e nos virulentos comentários em relação aos personagens, que não têm muita profundidade. Mas o filme transpira um certo charme comum às produções europeias medianas. Não por acaso, trata-se de uma refilmagem do francês Anthonny Zimmer – A Caçada, para a qual se escolheu exatamente um cineasta europeu para trazer elegância à aventura de um casal.
Von Donnersmarck sabe filmar com sedução e usa sua habilidade para exaltar toda a sensualidade de Angelina Jolie. Entre as atrizes contemporâneas, ela é uma das poucas que conseguem manter o fascínio das estrelas inalcançáveis da Hollywood dos anos 1930 e 40. Uma mulher/personagem intocável que cai de paraquedas na vida do monótono professor de matemática Frank (Johnny Depp).
Literalmente, Frank é um gaiato que entra num navio, quer dizer, numa lancha nas lindas (e fedorentas) águas de Veneza e começa a ser caçado por uns gângsteres russos. Motivo: foi confundido com Alexander Pearce, desaparecido por ter roubado os bandidos que agora o querem capturar.
O diretor nos dá dois pontos de vista para acompanhar o filme. O primeiro é o onisciente, a par da real natureza de cada personagem. O segundo, de Frank, que olha para Elise (Jolie) como se mirasse uma musa perfeita.
Nesses momentos, O Turista atinge seus momentos mais sedutores. A direção encara Jolie como uma diva que esconde sua identidade por trás de roupas luxuosas, maquiagens e joias, enquanto a câmera fica a observar sua sensualidade latente.
Apaixonado por essa femme fatale está Depp numa eficiente caracterização de um professor do Wisconsin. O texto do filme é generoso com Depp ao lhe entregar um personagem um tanto caipira que acha que o idioma falado na Itália é o... espanhol!
À exceção do carinho que o filme dá às suas duas estrelas, O Turista é um filme correto, com medida aceitável entre suspense, romance e aventura. Um entretenimento redondinho que não ofende a ninguém (a não ser Ricky Gervais), mas não é forte o suficiente para marcar um espectador.
Espero que Von Donnersmarck tenha considerado o período profissional no cinema americano como férias e volte a dirigir histórias que, além de bem realizadas, tenham alguma profundidade, porque O Turista não tem: é pura diversão.
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