O VENTO NOS LEVARÁ
Quem caiu em sono profundo ao ver Gosto de Cereja provavelmente terá reação idêntica ao assistir O Vento Nos Levará, do mesmo diretor Abbas Kiarostami. O filme é indicado apenas para os fãs do tão badalado e controvertido cinema iraniano. E tem o ritmo já bastante característico da estética cinematográfica daquele país: árido, muito árido.
A história tem início com três homens da cidade grande – meio perdidos numa estrada desértica – que chegam a um pequeno vilarejo para acompanhar uma cerimônia fúnebre. Porém, conscientemente ou não, Kiarostami prefere nunca deixar muito claro o que exatamente está acontecendo em seu filme. Sugere-se que estes homens da cidade estariam realizando um documentário. Sugere-se que a cerimônia fúnebre aconteceria em homenagem a uma velha senhora da vila, que se encontra à beira da morte. Sugere-se.
Novamente Kiarostami aborda o tema da morte de maneira enigmática. Ao deixar em aberto as várias interpretações que a ação possa sugerir, o cineasta divide sua obra com a platéia, como que pedindo ao espectador que ele mesmo preencha as lacunas do roteiro com suas próprias respostas. Para um público acostumado ao limitado “american way of filming”, onde tudo é detalhadamente explicado, O Vento nos Levará beira o insuportável. Para os apreciadores do cinema de arte, é uma bela e rica experiência. No mínimo, e como sempre, Kiarostami é novamente polêmico.
O filme ganhou o Prêmio da Crítica e o Grande Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza de 1999.
13 de dezembro de 2000
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Celso Sabadin é jornalista especializado em cinema desde 1980. Atualmente é crítico de cinema da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão e do Canal 21. Às sextas-feiras é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br