OUTUBRO (2010)
Rara chance para se apreciar um filme peruano nos cinemas brasileiros. E um filme de qualidades. Outubro narra o árido cotidiano do calado e solitário Clemente, um homem que ganha a vida praticando agiotagem e comprando objetos de (algum) valor de pobres desesperados a procura de dinheiro rápido. Um personagem que lembra em determinadas cenas o vivido por Selton Mello em O Cheiro do Ralo. Um homem que de clemente não tem nada.
Sua vida é marcada pela mesquinharia. Os tons marrons da fotografia e a direção de arte “suja” e de aspecto decadente reforçam e complementam a personalidade deste protagonista que se satisfaz com prostitutas de última categoria. As cenas de sexo chegam a transmitir algo de crueldade.
Até o dia em que um bebê é abandonado em sua porta... e Clemente não dá a mínima... Porém, de alguma forma aquela criança consegue mexer com as vidas das pessoas próximas. No mês de um popular santo local, ela tem o poder de aglutinar em torno de si uma espécie de família bizarra, composta por pessoas que tem muito pouco, quase nada, a se apegar.
Dentro de um estilo similar ao de bons trabalhos uruguaios como Gigante e Uísque, Outubro traz pouquíssimas palavras, poucos cenários e locações, e muita reflexão. O filme marca a estréia dos irmãos Diego e Daniel Vega Vidal no roteiro e na direção de longas, e ganhou o Prêmio do Júri na prestigiada mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes.