PALAVRA E UTOPIA
Portugal, França, Brasil e Espanha uniram esforços para produzir o mais recente filme de Manoel de Oliveira, provavelmente o cineasta mais idoso ainda em atividade na cinematografia mundial: 92 anos. Desta vez, Oliveira aponta suas estáticas lentes para 1663, momento em que o padre jesuíta Antonio Vieira é convocado a comparecer diante da Inquisição. Vieira precisa explicar ao tribunal suas idéias "liberais", sobre escravidão, a situação dos índios e as relações império-colônia. Perante os juízes, ele passa a limpo seu passado, desde a juventude no Brasil até o seu envolvimento na causa dos índios.
O tema, palpitante, poderia ter rendido um belo filme sobre a liberdade, mas o ritmo absolutamente arrastado, típico dos filmes de Oliveira, leva Palavra e Utopia ao limite do insuportável. Os filmes anteriores do cineasta português, apesar de premiados e elogiados, já indicavam o cansaço e a falta de criatividade de sua obra: Viagem ao Princípio do Mundo (1997), Inquietude (1998) e A Carta (1999), só para citar três exemplos, exigem doses maciças de paciência por parte do espectador. Uma paciência que nem sempre é recompensada, ao final da projeção.
Se atualmente Oliveira continua sendo um cineasta de prestígio, isso se deve muito mais ao respeito pela sua idade que propriamente à qualidade de seus filmes.
Em Palavra e Utopia, o Padre Vieira é interpretado por três atores: Ricardo Trepa, na juventude, Luís Miguel Cintra, na meia-idade, e Lima Duarte, na velhice.
28 de agosto de 2001
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Celso Sabadin é jornalista e crítico de cinema da Rede Bandeirantes de Televisão, Canal 21, Band News e Rádio CBN. Às sextas-feiras, é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br