POLÍCIA FEDERAL - A LEI É PARA TODOS
Não há como negar que o enredo da Operação Lava-Jato parece ter sido retirado de um filme de ficção Hollywoodiano. Mas infelizmente a história de contornos mirabolantes é real e vem sendo acompanhada diariamente por milhões de brasileiros, como em uma espécie de reality show com reviravoltas cada vez mais imprevisíveis.
Diante desse cenário, adaptar a história da Lava-Jato para os cinemas parece uma manobra precipitada, entretanto o diretor Marcelo Antunez aceitou o desafio mesmo diante de inúmeras polêmicas.
Mesmo antes de sua estreia, Polícia Federal - A Lei É Para Todos já estava envolvido em debates e promessas de boicote. Se por um lado o filme era acusado de midiático e partidarista, por outro era esperado com ansiedade e uma pré-concebida aprovação. As reações não são surpresa, afinal denotam um reflexo da polarização que permeia o cenário brasileiro no momento.
A trama acompanha o nascimento da operação, que começa com a prisão do doleiro Alberto Youssef, até a prisão de Marcelo Odebrecht e a condução coercitiva de Lula.
O juiz Sergio Moro aparece com um mero coadjuvante, afinal o foco principal está nos policiais federais, mas ainda assim há uma preocupação em humanizá-lo, mostrando o seu cotidiano familiar. Esse cuidado "especial" com a figura de Moro parece injustificado, afinal ele não é um elemento de extrema importância nessa primeira parte da trilogia – provavelmente, será mais explorado na sequência já anunciada.
Já a cena da condução coercitiva força um Lula apreensivo e descontrolado, bem diferente do que foi retratado pelos meios de comunicação na época.
A respeito das interpretações, Marcelo Serrado parece engessado e Ary Fontoura entrega um Lula caricato. Os destaques positivos ficam por conta do trio Bruce Gomlevsky, como o visceral agente Julio, de Flávia Alessandra como a decidida delegada Bia e de Antonio Calloni como Ivan, talvez um dos únicos policiais que mantém uma visão mais realista de toda a situação.
A Lei É Para Todos ganha pontos quando investe na atmosfera de suspense policial, algo que é pouco explorado pelo cinema brasileiro. A forma didática como a Operação é explicada e exemplificada, algo que será útil para aqueles que tentam acompanhar todo o desenrolar dos acontecimentos, também é um elemento positivo. Mas o filme peca quando exagera no tom "novelesco" em momentos cruciais como o depoimento de Lula e a relação entre o policial Julio e seu pai.
Alegadamente preocupado com o cenário hostil que os recentes acontecimentos políticos propiciaram ao país, Antunez vende o filme como a proposta de um "debate saudável" – como ele mesmo reforçou em coletiva de imprensa – mas no esforço de esconder qualquer inclinação política, e focar apenas no trabalho dos agentes federais, o filme acaba deslizando em atuações estereotipadas e escolhas duvidosas de elementos narrativos.