PONTO ZERO
O diretor John Hughes foi o porta-voz da geração dos anos 80, com seus clássicos que retratavam os dramas e as delícias de ser adolescente como Clube Dos Cinco, Gatinhas E Gatões e Curtindo A Vida Adoidado. Já em 2005, o cinema independente ganhou o movimento batizado de Mumblecore (algo como geração do resmungo), que assume a voz da geração dos "vinte e poucos". Como representantes, filmes como Frances Ha e Lola Contra o Mundo.
O longa brasileiro Ponto Zero tenta resgatar um pouco desse espírito ao retratar características desses dois movimentos. A trama acompanha o tímido Ênio na dura trajetória de descobertas que é a adolescência. Criado em uma família conturbada, afinal, sua a mãe é uma dona de casa submissa e o pai coleciona amantes, ele está sozinho para trilhar o próprio caminho até a vida adulta, mas primeiro precisa superar os fantasmas de seu passado.
Diferente da maioria dos personagens de filmes do gênero, Ênio é desprovido de rebeldia e age como um fantoche nas mãos tanto do pai quanto da mãe. Para completar, seus hormônios estão começando a aflorar e ele está ávido por sua primeira experiência sexual com uma mulher.
Com o contato de uma garota de programa em mãos, ele sai na calada da noite com o carro do pai - provavelmente o seu único ato de subversão na trama - pelas ruas chuvosas de Porto Alegre. Para simbolizar esse rito de passagem, o diretor José Pedro Goulart abusa de metáforas. A turbulenta noite representa a dificuldade do protagonista em crescer, de tomar as rédeas de sua própria vida.
O roteiro aposta em diálogos escassos, o que deixa a fotografia como foco de toda a produção. Rodrigo Graciosa, responsável por essa parte, conseguiu criar um universo onírico e que reflete a angústia do personagem.
Acontece que Ponto Zero não é um filme fácil e requer muita atenção e reflexão. Na tentativa de inovar na estrutura da narrativa, abusa dos simbolismos e desvia o espectador do tema central da história.