PRAÇA SAENS PEÑA
A classe média (aquela média mesmo, assustada e apega às minúsculas conquistas) não é um dos fortes do cinema brasileiro. Só para ter uma ideia, na programação da Retrospectiva do Cinema Brasileiro de 2009, apenas dois filmes, Feliz Natal e Se Nada Mais Der Certo, se concentram a construir dramas (que não sejam sociais) envolvendo a classe média.
Por que essa introdução? Para pontuar que Praça Saens Peña é um filme diferente na cinematografia nacional. Uma ficção que traz uma pequena parte do Rio de Janeiro que serve como microcosmo de um imenso universo carioca.
O filme de Vinicius Reis (A Cobra Fumou) cria personagens como se fossem pérolas descobertas durante um processo documental. Aposta em diálogos engraçados e a uma ambientação fiel da Tijuca, cuja praça mais conhecida é o centro da história. Busca na simplicidade e na beleza do cotidiano a fonte inspiradora - pode parecer clichê, mas não é.
O longa nos apresenta uma mulher quarentona, Teresa (Maria Padilha), muito bem casada com Paulo (Chico Diaz), um professor que sempre quis ser escritor. O casal tem uma filha, Bel (Isabela Meireles), adolescente bem chata. Quando Paulo recebe a proposta de fazer um livro sobre a Tijuca, região carioca que engloba diversos bairros e é costumeiramente definida como o berço do samba, a vida da família muda.
O apartamento é pequeno, aquele computador novo tem de ficar para depois, nem ventilador salva quando o sol bate forte. Nesse ínterim de perrengues, pai, mãe e filha tentam manter seus sonhos pequeno-burguês.
A história criada e dirigida por Reis não traz grandes reviravoltas. Não é essa a atração do filme. O principal prazer é o retrato das aspirações da classe média sem recorrer a citações fáceis e reducionistas. O pequeno mundo de sonhos baratos criado elo entre o roteiro e direção de Reis traz, ao mesmo tempo, qualidade dramática, muito humor e verossimilhança.
Até mesmo para uma plateia que não seja próxima ao universo carioca retratado no filme Praça Saens Peña mostra força ao ser carinhoso com o professor que quer virar intelectual (Paulo) ou a dona de casa que quer ter a casa própria (Padilha). Um bem-vindo olhar para a classe média tijucana.