SHAFT
Vamos ser cruelmente pragmáticos: a Scott Rudin Productions (a mesma de O Show de Truman) e a Paramount Pictures não colocariam 46 milhões de dólares nas mãos do jovem diretor ativista John Singleton apenas para apoiar a causa negra. Não vamos nos iludir: tudo é única e exclusivamente uma questão de mercado. Mesmo porque desde a época em que Spike Lee fazia sucesso que os marketeiros americanos já haviam descoberto que o público negro freqüenta o cinema proporcionalmente mais que o público branco.
Assim, sem ilusões: este novo Shaft versão 2000 não tem mais o mesmo peso social do Shaft anterior, de 1971. Naquele turbulento início de anos 70, era novidade a presença de um ator negro (no caso, Richard Roundtree) interpretando um papel heróico antes só destinado aos brancos. Agora, muita coisa mudou, e Shaft se transformou apenas em mais um filme de ação.
Desta vez a história mostra Walter (Christian Bale, o ex-garoto de O Império do Sol), um mauricinho acusado de matar um jovem negro. Como o dinheiro tudo pode, o rapaz sai livre e foge dos Estados Unidos até que a poeira assente. Porém, o policial John Shaft (Samuel L. Jackson, sempre ótimo) está disposto a tudo para não deixar a situação esfriar.
Neste novo roteiro adaptado por John Sigleton a partir do livro de Ernest Tidyman, o Shaft 2000 é sobrinho do original. O que rende ao veterano Richard Roundtree uma rápida e bem-vinda aparição.
Em tempo: os 46 milhões de dólares a que nos referimos no início desta matéria já se transformaram em 70 milhões nas bilheterias americanas. Por enquanto.
06 de novembro de 2000
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Celso Sabadin é jornalista especializado em cinema desde 1980. Atualmente é crítico de cinema da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão e do Canal 21. Às sextas-feiras é colunista do Cineclick. celsosabadin@cineclick.com.br