'Shang-Chi' é cheio de emoção e capaz de trazer algo novo à Marvel
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis é um filme incrível, com visual inspirado, lutas muito bem coreografadas e uma trama de origem que não subestima o espectador. Com uma bonita história sobre família, perda e luto, retrata bem como esse último pode ser destrutivo, enquanto nunca perde de vista a diversão de um filme de super-heróis.
É uma produção encantadora e algo realmente único dentro do Marvel Studios, com claras inspirações de produções como O Tigre e o Dragão, filmes de Jackie Chan a Hayao Miyazaki.
Com forte carga espiritual e emocionalmente complexo, o longa traz algumas das melhores cenas de ações no MCU, algumas inspiradas até em Dragonball Z. Com issom tudo, Shang-Chi (Simu Li) tem tudo para ser o novo Vingador favorito do público e, ao lado de Katy (Awkwafina), garantirem o sucesso da franquia.
O diretor Destin Daniel Cretton habilmente introduz esse personagem pouco conhecido no Universo Cinematográfico da Marvel de forma eficiente, mas boa parte do mérito é de Simu Li, um protagonista carismático e capaz de nos transmitir emoções com simples olhares, um ator realmente entregue ao papel.
Na trama, Shang-Chi é caçado por seu pai Wenwu (Tony Leung) e seus Dez Anéis, uma organização criminosa secreta poderosa. Quando a visão do homem em luto vai contra a moral de Shang-Chi, ele precisa enfrenta-lo, ao mesmo tempo que tenta lidar com seu próprio passado.
Dessa forma, o filme trata de questões comuns aos filhos de imigrantes, como a as altas expectativas não atendidas após a batalha dos pais para garantir uma vida melhor à todos. Com isso, o longa traz uma maneira interessante de mostrar a jornada do herói, mas realmente com foco na cultura asiática.
Entretanto, o filme é isso: Uma jornada do herói, então a trama não escapa de clichês e lugares comuns que esse tipo de narrativa nos traz. Por mais fluído que o filme seja e esteja repleto de cenas empolgantes, no fim do dia é uma história básica, onde a beleza está nas relações interpessoais e nos detalhes que trazem pequenas pinceladas de novidade à uma velha história.
É por isso mesmo que a importância de Liu e Awkwafina é tão grande. Os dois têm uma química genuína que astutamente vende a ideia de Shang-Chi e Katy como dupla capaz de encarar as muitas aventuras que estão por vir. A amizade deles ancora o filme e é plausível a forma como ela fica ao lado dele mesmo depois de saber sobre sua vida secreta. Seu relacionamento é ótimo e isso os transforma em uma parceria formidável capaz de lidar com qualquer coisa.
Outro destaque é Wenwu, vivido por Tony Leung, um dos antagonistas mais simpáticos e complexos da Marvel até aqui e cujas ações equivocadas, apesar de bem-intencionados, o coloca contra seus filhos. O personagem vem de uma redenção quando o conhecemos, afinal, quando Wenwu conhece (e luta) com sua futura esposa Xiang Li, sua vida muda de Senhor da Guerra, para pai de família. É algo profundamente romântico. A dor do luto faz Wenwu, que também já foi chamado de Mandarim ao longo da história, cometer atos desesperados e cabe a Shang-Chi e sua irmã Xialing (Meng’er Zhang) detê-lo.
O longa ainda se destaca na parte técnica. Visto no IMAX, a beleza é grande, com muitas cores, belas cenas e cenários bem pensados. A trilha sonora também é destaque e você vai sair do cinema querendo ouvir as músicas apresentadas aqui.
Sem falar que Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis tem algumas das melhores cenas de ação do MCU, o que não é uma surpresa ao considerar a origem dos poderes do protagonista. As lutas apresentam uma grande fluidez e beleza, mas ganham credibilidade mesmo graças aos instintos naturais e ao treinamento de Shang-Chi, mérito do roteiro. É bom ver diferentes estilos de artes marciais na Marvel.
Curiosamente, a história de Shang-Chi é completamente independente e você quase esquece que o filme faz parte do Universo Cinematográfico da Marvel, mesmo com as referências constantes ao MCU. Obviamente, algumas revelações só virão nos filmes posteriores e isso já é algo que aprendemos a lidar para esse mundo funcionar nos cinemas.
A produção ainda faz um belo trabalho em balancear ação, humor e emoção em um filme realmente marcante. A história de Shang-Chi é algo bastante pessoal, mas que se conecta com o MCU de diversas maneiras bem pensadas. Tudo funciona graças a um vilão emocionalmente complexo, um elenco estelar com química fantástica e sequências de ação maravilhosas.
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis navega bem pelas questões culturais asiáticas e nos entrega uma das produções mais divertidas e interessantes entre os filmes baseados em quadrinhos. Pode não inventar a roda, mas é capaz de encantar de diversas maneiras.