TODOS OS DIAS
O tempo passa quando ninguém está olhando, na repetição de pequenas coisas. É sobre esse tempo e o distanciamento imperceptível entre os atos, os anos, de que trata Todos os Dias.
O longa dirigido por Michel Winterbottom (A Festa Nunca Termina) se passa num vilarejo escocês e acompanha o dia a dia de uma família na qual o pai foi preso e perde parte importante do crescimento dos quatro filhos.
Ao retratá-los de forma natural, filmando o crescimento dos atores mirins - os Kirk, que são irmãos na vida real -, o longa conseguiu transmitir uma sensibilidade impactante. Ao longo de cinco anos, sempre no Natal, o diretor os reunia e retomava as filmagens.
As primeiras cenas, por exemplo, são da equipe chegando à casa dos Kirk para acordá-los. E Winterbottom insistiu numa ideia na qual já havia trabalhado anteriormente, a série de TV Up, quando acompanhou a vida das mesmas pessoas pelo período de sete anos para retratar suas mudanças.
Nos pequenos detalhes, consegue mostrar o distanciamento criado entre o pai, Ian (John Simm) e os filhos devido a distância: o choro de um, a personalidade difícil de lidar de outro, os pequenos roubos cometidos na escola tomando como exemplo a imagem do patriarca, de quem não se sabe o motivo exato da prisão.
Levando uma jornada dupla para manter a família, a mãe Karen (Shirley Henderson) enfrenta a solidão diária e os problemas do caminho para tentar reaproximá-los constantemente, como vemos nas boas cenas filmadas no espaço de visitas de um presídio real.
O filme cai no marasmo da rotina, o que se justifica pela própria narrativa. As viagens exaustivas de trem mostram esse cansativo cotidiano. É interessante notar a transição de lugares fechados, quase claustrofóbicos, para os grandes ambientes abertos onde a família passeia no verão. A liberdade brevemente readquirida pelo preso nos dias fora da cela ganha força nos raios de sol e no longo espaço para caminhar.
O ponto que estraga Todos os Dias é a trilha sonora insistente e desnecessária, que pontua alguns momentos para criar comoção por parte do público. Consegue apenas um efeito pretensioso e brega.
De qualquer forma, ao ter calma para retratar o tempo, o novo longa de Winterbottom sai do lugar comum e da correria da atualidade com estilo e uma bela fotografia.