VERMELHO COMO O CÉU
Emotivo e emocionante, como só o cinema italiano sabe fazer. Assim é Vermelho como o Céu, filme que conta a história real de Mirco (Luca Capriotti), um garoto de dez anos que fica cego num acidente doméstico e é obrigado a freqüentar uma escola especial, longe dos pais e dos antigos colegas.
À primeira vista - sem trocadilhos -, o tema da cegueira infantil poderia sugerir um filme melodramático e choroso, mas esse, felizmente, não é o caminho seguido pelo diretor Cristiano Bortone, um cineasta inédito no circuito comercial brasileiro. Pelo contrário: Bortone trata o tema com lirismo e extrai de seu jovem elenco (quase todo formado por crianças realmente cegas) ótimos momentos de bom humor. Como tudo é ambientado na Itália dos anos 70, o sub-tema que permeia a trama é o autoritarismo, aqui travestido na figura do diretor da escola especial, um homem amargo - ele próprio também cego - que não acredita nas capacidades produtiva e criativa do deficiente visual. Como se percebe, há várias formas de cegueira.
Numa segunda análise, Vermelho Como o Céu é um filme sobre transições. O protagonista é obrigado a se adaptar ao mundo da escuridão, ao mesmo tempo em que cresce, em todos os sentidos, como pessoa. Enquanto isso, lá fora, a própria Itália é compelida a mudar as leis sobre estudantes deficientes, como o filme explica no final. Também sem querer estragar o final da trama, o destino verídico deste menino, quando adulto, também é dos mais poéticos.
Além de fazer uma belíssima declaração de amor ao cinema, Vermelho Como o Céu resgata a tradição humanista e passional de um tipo de cinema italiano que não tem medo de chorar. Não pro acaso, ele foi eleito o melhor filme pelo Júri Popular da 30ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.