<p>Separamos alguns filmes em que os personagens s&#xE3;o envolvidos com o mundo das drogas</p>

Faz parte da tal da verossimilhança que alguns filmes tenham o aspecto de um viciado em drogas. Ao mostrar usuários em ação, algumas obras captam muito bem a atmosfera opressiva que cai sobre as vítimas, às vezes até abusando dos efeitos fáceis e da câmera desgovernada, mas muitas vezes dando conta de como o vício interfere na vida pessoal e profissional. É o caso de Johnny e June , que mostra a situação de um ídolo (Johnny Cash) quando perde algumas boas possibilidades na carreira por não conseguir se manter afastado dos vícios. Por Sérgio Alpendre

O discutível Cidade de Deus , de Fernando Meirelles ( Ensaio Sobre a Cegueira ) mostra o consumo de maconha por adolescentes, e crianças disparando armas de fogo. Um retrato cruel da realidade brasileira pedia um tratamento com menos firulas. Em alguns momentos, a sensação que sentimos com aquela câmera girando é a de que fomos nós que consumimos alguma droga.

O Homem Com o Braço de Ouro mostra um músico, Frank Sinatra ( ), que é incitado a se viciar por um traficante cruel. Ele encontra uma pessoa que o ama, e tenta livrá-lo do vício. As cenas de abstinência são desesperadoras, e o diretor é o excelente Otto Preminger, de Anatomia de um Crime

É inevitável mencionar Trainspotting , filme um tanto superestimado, mas talentoso, de Danny Boyle ( Sunshine - Alerta Solar ). Ewan McGregor ( O Sonho de Cassandra ), numa de suas bad trips , mergulha, literalmente, numa latrina fétida de um banheiro público. Arrrggghhh.

Um dos filmes mais superestimados dos últimos tempos é Réquiem para um Sonho , do dublê de diretor Darren Aronofsky ( Fonte da Vida ). Nele, a veterana Ellen Burstyn ( Alice Não Mora Mais Aqui ) se torna viciada em pílulas para emagrecimento quando descobre que vai aparecer na TV. Seu filho, por sua vez, tem o braço comprometido de tanto levar picada de heroína.

Bebida alcoólica também é droga, tão ou mais nociva do que várias que são proibidas. Existem dois filmes muito fortes que retratam essa dependência muito difícil de ser tratada. Um deles é Farrapo Humano , de Billy Wilder ( Crepúsculo dos Deuses ), em que Ray Milland tem até alucinações durante o difícil período de abstinência. A cena do morcego comendo o rato na parede é uma das mais fortes do cinema.

Outro é Vício Maldito , dirigido por um especialista em comédias, o genial Blake Edwards, famoso por comédias hilárias como Corrida do Século e Um Convidado Bem Trapalhão . Tem Jack Lemmon ( Se Meu Apartamento Falasse ) e Lee Remick ( Anatomia de um Crime ) nos papéis principais, cada um se submetendo ao vício em épocas diferentes. Triste e realista, é um dos filmes mais marcantes sobre a dependência alcoólica.

Abel Ferrara ( Maria ) é um dos diretores que estão vivos por milagre, entregue que é às mais alucinantes experiências com drogas. Seu cinema retratou, mais de uma vez, esse tipo de dependência que pode ser fatal. Mas nunca de maneira tão forte quanto em Vício Frenético . O policial interpretado por Harvey Keitel desce ao inferno, e conhece os demônios, enquanto blasfema em uma cena poderosíssima dentro de uma igreja.

O mesmo Ferrara, em 2002, realizou um poderoso retrato do dia a dia de um traficante, que, como na piada pronta aplicada aos brasileiros ("o país em que prostitutas têm orgasmo e traficantes são viciados"), também é usuário. O filme se chamou medonhamente Gangues do Gueto e foi lamentavelmente lançado diretamente em DVD. Teria força para causar frisson em nossos cinemas. Claro, num mundo perfeito.

Drugstore Cowboy foi o filme que revelou Gus Van Sant ( Paranoid Park ) ao mundo. Matt Dillon ( Factotum ) é o homem que consome drogas com prazer, e obsessivamente. Um viciado, na mais estreita acepção da palavra. Para manter o vício, ele assalta drogarias com sua gangue de junkies , entre eles, Kelly Lynch ( As Amantes ).

Em O Desespero de Veronika Voss , obra-prima de Rainer Werner Fassbinder ( O Casamento de Maria Braun ), uma atriz de prestígio que havia se internado em uma clínica de psiquiatria acaba viciada em morfina. Cenas explícitas de dependência química e afetiva fazem do filme um triste e belo testamento da carreira do diretor. É o penúltimo filme de fassbinder, e, para muitos, o melhor.

Não podemos esquecer do Scarface de Brian De Palma ( Dália Negra ), que mostrava montanhas de cocaína sendo consumidas por Al Pacino e amigos. Com uma violência brutal, e o enorme talento do diretor, é outro filme que merecia maior sorte à sua época. Mas foi tomado como um simples remake sem força do clássico de mesmo nome dirigido por Howard Hawks ( Levada da Breca ) e lançado em 1932.

No recente Os Donos da Noite Joaquin Phoenix ( Johnny e June ) tem uma vida entregue às drogas e à libertinagem, até que uma situação extrema o obriga a colaborar com pai e irmão, ambos policiais tentando desbaratar uma poderosa quadrilha de traficantes. As imagens iniciais, ao som da canção "Heart of Glass", do Blondie, são inesquecíveis, e mostram o protagonista libertino em ação.

Infelizmente, nenhuma alma santa teve coragem de lançar Viagem ao Mundo da Alucinação , experiência de Roger Corman ( O Corvo ) que pretendia simular o efeito da ingestão de LSD por meio de imagens verdadeiramente lisérgicas. Mesmo com Peter Fonda e Dennis Hopper (ambos de Sem Destino ) e Jack Nicholson ( Os Infiltrados ) no elenco o filme permanece inédito no Brasil. Cartas às distribuidoras.

Já O Despertar da Besta , de José Mojica Marins (que tem filme novo saindo do forno: Encarnação do Demônio ) foi lançado dentro de uma caixa em homenagem ao Zé do Caixão, o mais famoso personagem do diretor. Talvez O Despertar da Besta seja sua obra máxima, que descreve, entre outras coisas, as experiências de cobaias que ingeriram a droga mais cultuada nos anos 60, o LSD. Também conhecido como Ritual dos Sádicos .

Cineclick

Droga em Filmes

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