<p>No Dia da Independ&#xEA;ncia, apontamos longas brasileiros que t&#xEA;m sinalizado formas alternativas de fazer cinema.</p>

Com os recursos de capitação e finalização digitais cada vez mais democratizados, o cinema deixou de ser uma arte para poucos endinheirados. A distribuição digital também pode significar uma democratização na exibição dos longas. E o cinema brasileiro tem se aproveitado dessas facilidades para se desenvolver também de forma independente. Por isso, no Dia da Independência, resolvemos apontar algumas produções em longa-metragem que, desde os anos 90, têm sinalizado formas alternativas de se fazer cinema, chegando ao circuito comercial sem depender, necessariamente, de grandes estúdios dando o apoio financeiro. 
 
Em 1997, Mauro Lima ainda não era o diretor de Meu Nome Não É Johnny , mas sim um jovem publicitário que estreou na direção de longas com Loura Incediária , que acabou virando um pequeno cult do cinema independente brasileiro. O filme foi produzido com restos de negativos dos trabalhos publicitários que Lima e seus amigos realizavam, o que possibilitou essa produção independente quando o cinema digital ainda nem existia; custou pouco mais de R$ 10 mil. “Na época que o filme passou, nem tantas pessoas foram ver, somente duas cópias rodaram algumas capitais”, disse o diretor ao Cineclick em conversa recente. O longa chegou no circuito comercial, mas com algumas restrições: foi exibido unicamente em horários especiais (22h) nos circuitos alternativos. “Nunca tive idéia de gerar polêmica com o longa, a idéia surgiu, na verdade, de um amigo meu que dirigia peças de teatro e queria fazer um curta-metragem com uma lata de filme em preto-e-branco que ele tinha. Dei a idéia de transformá-lo em longa como se fosse um estudo filmado, tendo como referência diretores B dos anos 70.” O filme é tão independente que não conseguimos encontrar imagens dele, então a que a ilustra nesta galeria é a de Mauro Lima mesmo (acompanhado do ator Cauã Reymond durante a abertura do Festival Paulínia de Cinema, em 2009). 
 
 Por Angélica Bito

Cláudio Assis é um cineasta que mostra uma certa urgência em filmar, principalmente a dor e a miséria humana. A urgência em filmar é força motriz para os cineastas independentes e Assis mostra esse desejo em seu primeiro longa-metragem, Amarelo Manga (2002), que, pelo elenco afinadíssimo e tramas paralelas que, em comum, têm a miséria do ser humano – a miséria do espírito, não, necessariamente, a material – marca o cinema brasileiro pelo tom da polêmica.

O cineasta paulistano Alexandre Stockler é um dos criadores do movimento Trauma 99 (Tentativa de Realizar Algo de Urgente e Minimamente Audacioso), resposta ao Dogma 95 dinamarquês. Desse manifesto, surgiu o drama Cama de Gato (2002), que chocou ao expor sem pudores uma geração de morais completamente deteriorados. Na história, três garotos da classe média paulistana embarcando em uma noite bizarra em busca de diversão. Por sua estreia na direção, Stockler ganhou muitos elogios, o prêmio de Melhor Filme pelo público da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo daquele ano e, também, críticas ferozes. Afinal, o diretor não poupa a inclusão de cenas chocantes que, no final das contas, têm o objetivo de fazer com que o espectador pense sobre os rumos tomados pelos jovens brasileiros hoje em dia.

José Eduardo Belmonte acaba de lançar seu quarto longa, Se Nada Mais der Certo , mas seu primeiro filme, o independente Subterrâneos (2004), também é digno de destaque. O longa foi rodado no intrigante conjunto comercial brasiliense Conique, com câmeras digitais, e acabou colocando o nome do cineasta em voga no novo cinema brasileiro.

Podemos dizer que Domingos de Oliveira é um realizador que já filma há mais de 40 anos e segue sendo independente por escolha própria. O cineasta é um dos poucos veteranos que conseguiram se adaptar muito bem aos modos de capitação digital – o que barateia consideravelmente um orçamento, princípio básico do cinema independente -, como podemos ver em Juventude (2008), seu último longa-metragem. A partir de Carreiras (2005), ele passou a desenvolver o B.O.A.A. (Baixo Orçamento e Alto Astral), esquema de produção em digital com poucos recursos financeiros, mas muitos em criatividade.

Quando foi exibido no Festival do Rio de 2008, Apenas o Fim era “aquele filme feito pelos estudantes da PUC que custou R$ 8 mil”. No encerramento do evento, tendo sido premiado com o troféu Redentor como Melhor Filme na escola popular e Melhor Roteiro, o longa dirigido pelo estreante Matheus Souza causou frisson nos circuitos dos festivais e chegou ao circuito comercial tendo sido visto por 4 mil espectadores no primeiro fim de semana em cartaz.

O suspense Vingança , estreia na direção de Paulo Pons, foi exibido ao público pela primeira vez no Festival de Cinema de Gramado de 2008; também foi selecionado para o Festival do Rio e Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, ambos em 2008, e foi exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim em 2009. Trata-se de um longa de baixo orçamento, que soma singelos R$ 80 mil. O longa faz parte de um projeto que prevê a produção de mais três filmes também de baixo orçamento, como este. Embora recebido friamente nos festivais brasileiros, o longa entrou em cartaz no circuito comercial por pouco tempo e sinaliza positivamente no cenário cinematográfico no sentido de mostrar alternativas viáveis para o desenvolvimento do cinema independente brasileiro.

O documentário O Milagre de Sta. Luzia foi premiado no Festival de Brasília em 2008, mas todos sabemos que prêmios em festivais não garantem o sol a um filme no circuito comercial brasileiro. Mas o diretor, Sérgio Roizenblit, queria que seu filme fosse visto, ao mesmo tempo em que apostou no carisma de Dominguinhos – condutor do documentário musical – para levar os espectadores às salas, diferentemente das distribuidoras. Assim, Roizenblit resolveu distribuir independentemente o longa, mesmo que em circuito restrito.

Cineclick

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