'Quero ser John Malkovich' continua bizarro após 22 anos
Quero ser John Malkovich, um dos filmes mais bizarros de todos os tempos, chocou o público com sua narrativa sobre conseguir entrar em mentes alheias.
Nesta quinta-feira (03), ele completa 22 anos desde sua estreia no Brasil e é quase impossível encontrar um longa que tenha abordado de forma tão original o assunto de pertencimento humano.
Escrito pelo cineasta Charlie Kaufman, o roteiro conta a história de Craig Schwartz (John Cusack), um controlador de marionetes que encontra-se desempregado há vários meses. Ele passa seus dias nas ruas encenando uma versão do romance entre Abelardo e Heloísa, interpretada por bonecos. O problema é que isso lhe causa muitos problemas pessoais.
Com uma vontade insaciável de sair desse emprego, ele resolve responder a um anúncio publicado por uma empresa que está à procura de um arquivista. Quando Craig chega ao local, ele se surpreende que o escritório funciona no sétimo e meio andar do edifício. O lugar tem um teto tão baixo que todos os funcionários devem andar encurvados.
Mas Craig percebe que pode ter mais bem mais. Aproveitando-se das suas habilidades de manipulador de fantoches, ele descobre que pode ficar indefinidamente na cabeça do astro de cinema John Malkovich, manipulando a personalidade da mente receptora até tornar-se outra pessoa em um novo corpo e conquistar o amor da sua amante Maxine (Catherine Keener) que o rejeita por não considere-lo vitorioso na vida.
Craig consegue esse feito depois de achar um portal atrás dos arquivos e consegue viver sob a perspectiva do astro até alguns problemas começarem a acontecer.
O longa, além de inovador, trouxe uma questão profunda sobre a existência humana, e isso se deve ao uso das marionetes como forma de erguer esse questionamento.
A marionete é o símbolo principal em Quero Ser John Malkovich. A marionete tem um simbolismo óbvio presente na narrativa, mas também há um significado mais profundo. Elas são descendentes diretos dos antigos ídolos divinos, adorados e animados pelos seus sacerdotes. Isso pode exemplificar a própria existência humana, com o fascínio de identificar onde pertencemos e o questionamento se somos controlados por alguém ou algo.
Além disso, o longa contém um roteiro com embasamentos históricos, por exemplo, a peça que o protagonista Craig estava encenando com seus fantoches (quando ele leva um tapa de um pai zangado). Ela é baseada nas cartas de Abelardo e Heloísa escritas entre 1.115 e 1.117 DC, que foram encontradas, copiadas e resumidas por Johannes de Vepria, um monge cisterciense, em Ex Epistolis duorum amantium (Das cartas de dois amantes).
Este se tornou um documento clássico do antigo romance trágico usado por muitos artistas em seus trabalhos, incluindo William Shakespeare em Romeu e Julieta.
Ainda sobre marionetes, o nome do personagem de John Cusack é uma referência combinada a Edward Gordon Craig e Bruce Schwartz. Schwart, um talentoso titereiro americano, enquanto Craig foi um artista de teatro da virada do século que sugeriu que os atores não deveriam ser vistos como mais importantes do que as marionetes.
Mas, além das marionetes como uma das maiores referências, Quero Ser John Malkovich traz muito antes da plataforma 9.3/4 de Harry Potter o andar 7.1/2, onde descobre a porta mágica para entrar dentro da mente do ator e começar sua nova vida bizarra. Chega a ser inacreditável a coincidência, né? O andar é um marco do filme e será lembrado durante gerações na história do cinema.
Com certeza o filme de Spike Jonze deixou sua marca no cinema, e você, já viu ou vai rever o clássico?
Atualmente, Quero Ser John Malkovich está disponível no Net NOW e na AppleTV.