Coronavírus: Comparamos pandemias da ficção com a realidade
O Coronavírus mexe com o emocional das pessoas de todo o mundo e muitas vezes a fronteira entre fantasia e realidade se mistura. Não é à toa que o filme Contágio, de 2011, sobre uma pandemia mundial mostrada de forma realista (porém ainda dramatizada) está em primeiro lugar em diversos serviços de streaming.
Cinema e TV produzem muitos conteúdos com tramas sobre vírus e oferecem não só uma fuga da realidade com histórias tensas e dramáticas, mas também, nesse momento em que a vida nos pega de surpresa, serve como uma maneira das pessoas processarem a situação.
Entretanto, por mais realista que filmes e séries sejam, como Contágio, é preciso lembrar que Hollywood vive do exagero, dos conflitos, dos heróis, e, por isso, as versões para o entretenimento sobre pandemias globais vão em busca do fantástico: de zumbis a conspirações governamentais.
Pandemia na ficção
Um dos primeiros thrillers a tratar sobre o tema é O Enigma De Andrômeda, de 1971, adaptado de um livro do autor Michael Crichton (Jurassic Park e Westworld), que costuma abordar como a tecnologia cria dilemas morais e existenciais para a humanidade.
Os elementos de ficção científica são recorrentes, como podemos ver no clássico de 1995 Os 12 Macacos, sobre o uso de viagens no tempo para tentar impedir uma praga criada em laboratório de acabar com a maior parte da humanidade. Ou de Epidemia, de 1997, que mostra o vírus do Ebola contrabandeado da África para os EUA, exigindo que uma equipe de médicos (liderada por Dustin Hoffman) corra contra o tempo para impedir o alastramento da doença mortal.
Nesse ponto, Contágio, do diretor Steven Soderbergh, traz a visão mais realista ao mostrar os efeitos de uma pandemia no mundo, mas mesmo esse longa exagera números, situações e cria dramas para gerar tensão a fim de entreter.
A vida real não funciona assim. Viver uma pandemia significa longos períodos de incerteza e tédio, difíceis de refletir em um filme destinado a divertir. Imagine um filme onde o mundo é salvo apenas pela população lavar as mãos e ficar em casa. Seria chato de assistir, certo? Mas, ao viver uma situação dessa, já ficamos apreensivos. Por isso a importância de separar realidade e ficção.
Zumbis e pandemias
E aí temos os filmes que realmente extrapolam de vez o assunto, como Zumbilândia (2009), Extermínio (2003), Madrugada Dos Mortos (2004), Guerra Mundial Z (2013), Eu Sou A Lenda (2007), Invasão Zumbi (2016). Nesses longas, vírus transformam a maior parte da população em seres famintos comedores de cérebro e nada pode pará-los. Quer mais fantasia do que isso?
Pandemia como metáfora
Filmes de pandemias são boas formas de mostrar pessoas comuns se sacrificando, enquanto o futuro da Terra está em risco por um inimigo nomeável e realista. Além disso, um surto é uma maneira de mostrar como funcionam sistemas que governam nossas vidas e mal sabemos que eles estão lá.
O filme Contágio traz informações relevantes sobre a disseminação de vírus e as formas vigente de controle a surtos. No filme coreano A Gripe, o presidente da Coréia do Sul é derrubado temporariamente por um funcionário maligno da Organização Mundial da Saúde. Relações tensas com outros países e organizações globais, como o Fundo Monetário Internacional, são trazidos à tona e extrapolados.
Se você parar para pensar, raramente esses filmes focam muito na doença em si, acabam tratando de temas como governos e poderes oprimindo os vulneráveis, terroristas, burocratas e militares inescrupulosos, pessoas comuns se tornando heróis após serem abandonados - um medo comum nos Estados Unidos, onde não existe um sistema público de saúde.
A propagação da doença torna-se apenas o estopim para lutas pelo poder.
Realidade vs Ficção
O filme Contágio é o mais próximo da situação atual, ao mostrar uma mulher (interpretada por Gwyneth Paltrow) que retorna a Minnesota, EUA, com uma doença estranha após uma viagem a Hong Kong, China. Mesmo assim, os exageros são muitos e o longa não deve ser tomado como um documentário. Veja algumas diferenças entre os vírus da ficção e a realidade do Coronavírus:
Como surgiu
Ficção:
Em Contágio, um morcego infecta um porco, que é consumido posteriormente num restaurante de um hotel de Hong Kong pela paciente zero, que espalha a doença sem saber que estava contaminada.
Realidade:
A teoria mais forte é parecida com o filme de 2011, no qual aconteceu uma mutação em animais e posteriormente aconteceu a transmissão a humanos. Entretanto, é muito difícil identificar o paciente zero, pois quando se percebeu que algo estava acontecendo, já eram 41 casos com os mesmos sintomas em Wuhan, China.
Disseminação
Ficção:
Em Contágio, vemos o segundo dia da propagação do vírus, quando um homem em Hong Kong, na China, é o primeiro a morrer da doença logo de cara. Um homem em Tóquio e uma mulher em Londres também morrem no mesmo dia. No filme, o vírus MEV-1 se espalha por contato próximo e superfícies tocadas por pacientes infectados. E o número de pessoas infectadas e mortos é catastrófico.
Realidade:
No caso do Coronavírus, as partículas virais não podem sobreviver por muito tempo em superfícies e o vírus se espalha mesmo por gotículas passadas a outras pessoas as pessoas infectadas tossem ou espirram. Evitar contato e lavar as mãos e usar álcool gel 70% já fazem uma grande diferença para impedir o avanço da doença.
E a primeira pessoa a morrer pelo novo Coronavírus, um morador de Wuhan, China, de 61 anos, morreu 11 dias após o relato do primeiro caso. Sem falar que o vírus só saiu da China em 13 de janeiro, duas semanas após o início do surto.
Imunidade e cura
Ficção:
É comum filmes do gênero mostrarem um paciente imune como chave da cura, muitas vezes essas respostas são encontradas em dias ou meses e como única alternativa para a resolução do problema, sem outro tratamento viável fora a imunidade natural ou cura.
Realidade:
O conceito de imunidade individual não se aplica ao caso dos Coronavírus, segundo Neil Ferguson, cientista do Imperial College de Londres. "Com o vírus da gripe você se torna imune, mas existem muitos vírus diferentes circulando. Os Coronavírus não evoluem da mesma maneira que a gripe, mas igualmente nosso corpo não gera imunidade tão rapidamente", disse ele em entrevista ao Telegraph.
Entretanto, medidas simples como lavar as mãos e evitar contato com pessoas infectadas podem parar a pandemia sem a necessidade de uma cura ou imunidade, por isso governos do mundo todo tem tomado medidas de acordo com essas recomendações, com resultados positivos.
Embora diversos países procurem a cura, uma vacina segura e viável pode demorar meses, porém não é crucial para impedir a doença, como os filmes nos fazem acreditar.
Recuperação dos doentes
Ficção:
Na maioria dos filmes do gênero raramente existem pacientes recuperados, por questões dramáticas a fim de aumentar a tensão dessas tramas ficcionais.
Realidade:
Segundo Todd Ellerin, médico e escritor da Harvard Health Publishing, "muitas pessoas se recuperam em poucos dias" do Coronavírus. A taxa mundial de mortalidade está em aproximadamente 3,7% dos infectados, ou seja, 96,3% das pessoas infectadas se recuperam da doença.
Fake News
Ficção:
Um blogueiro do filme Contágio, interpretado por Jude Law, espalha informações falsas, alegando que o vírus MEV-1 foi fabricado por empresas farmacêuticas em prol de lucros. Já membros do Governo acreditam que o vírus é uma arma terrorista. Nenhuma dessas teorias se mostram verdadeiras no longa, apesar do pânico que as Fake News geram.
Realidade:
A desinformação também se espalhou durante o surto atual. De curas milagrosas a teorias da conspiração.
O senador norte-americano Tom Cotten veio a público com uma teoria de que o Coronavírus veio de cientistas chineses em um laboratório secreto de Wuhan e sua intenção era criar uma guerra biológica.
Cientistas de todo o mundo logo refutaram a possibilidade. "Não há absolutamente nada na sequência do genoma desse vírus que indique que o vírus foi criado em laboratório", disse Richard Ebright, professor de biologia química da Universidade Rutgers, ao Washington Post.
Quarentena
Ficção:
Na maioria dos filmes sobre vírus, quarentenas se mostram inúteis ou com sucesso limitado, mal organizadas e incapazes de conter a população em pânico. O povo acaba largado à própria sorte, enquanto os governos são incapazes de criar respostas coordenadas.
Realidade:
Na China, a quarentena funcionou e os números do Coronavírus já começam a diminuir. Em diversos locais do mundo, as cidades que adotaram medidas restritivas mostram sucesso na contenção da doença. Governos tem tomado decisões sensatas, preocupados em evitar o pânico.
Assista filmes sobre Pandemias, mas entenda que são obras de ficção
Não há motivo para pânico. E sim, vale continuar a assistir filmes sobre vírus e pandemias nesse momento de crise, afinal, eles nos ajudam a processar a situação atual e servem como entretenimento nesse momento de quarentena. Mas tenha consciência de que os exageros e dramas vistos nessas obras estão lá para criar tensão, mostrar heróis e, assim, gerar interesse do público.
A realidade é bem diferente e está mais do que claro que seguindo as recomendações de médicos e cientistas, as coisas começarão a melhorar em breve.
Confira filmes sobre pandemias:
Cargo (2017)
Ao Cair Da Noite (2017)
Invasão Zumbi (2016)
Maggie - A Transformação (2015)
Planeta Dos Macacos: O Confronto (2014)
A Gripe (2013)
Maze Runner: Correr Ou Morrer (2014)
Contágio (2011)
Sentidos Do Amor (2011)
O Planeta Dos Macacos: A Origem (2011)
A Epidemia (2010)
Ensaio Sobre A Cegueira (2008)
Fim Dos Tempos (2008)
Eu Sou A Lenda (2007)
Invasores (2007)
Filhos Da Esperança (2006)
Madrugada Dos Mortos (2004)
Extermínio (2003)
Virus (1999)
Epidemia (1997)
Os 12 Macacos (1995)
O Enigma De Andrômeda (1971)
O Sétimo Selo (1957)