Repleta de questões morais, Watchmen mudou as HQs com tom político
Watchmen é considerada um marco dos quadrinhos por sua abordagem madura, linguagem, tom político e críticas sociais. Escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons, publicada originalmente em doze edições mensais pela editora estadunidense DC Comics entre 1986 e 1987, ajudou a popularizar o formato Graphic Novel, ganhou filme e uma elogiada série da HBO.
A trama de Watchmen se passa nos EUA de 1985, um país no qual justiceiros fantasiados são realidade. O mundo vive um momento delicado durante a Guerra Fria e está prestes a declarar uma guerra nuclear contra a União Soviética. A mesma trama envolve os episódios vividos por um grupo de super-heróis do passado e do presente e os eventos que circundam o misterioso assassinato de um deles.
Watchmen retrata os super-heróis como indivíduos reais, com problemas psicológicos, neuroses e repletos de defeitos. Além disso, são constantemente desafiados por questões morais. Essa linguagem, combinada com sua adaptação inovadora de técnicas cinematográficas, o uso frequente de simbolismo, diálogos em camadas e metaficção, influenciaram tanto o mundo do cinema quanto dos quadrinhos.
Em termos de criatividade, é quase impossível medir a importância de Watchmen. Vencedor de vários prêmios dentro e fora da indústria dos quadrinhos, incluindo o Hugo Award em 1988, tem sido consistentemente citado como um dos primeiros trabalhos a demonstrar a maturidade dessa mídia, e transcendeu ao entrar para as listas de Melhores Romances da Time, da Entertainment Weekly e do Wall Street Journal.
Joss Whedon, diretor de Os Vingadores - The Avengers, disse que Watchmen é "prova de tudo que um quadrinho poderia fazer, mas também uma afirmação de tudo que os quadrinhos fizeram", o que é uma boa maneira de explicar, em uma linha, a importância dessa obra.
Não é toa que a coletânea é uma das publicações de maior sucesso da DC Comics.
Questões políticas
Watchmen é uma forma de literatura extremamente política. Na HQ, o contexto da Guerra Fria é crucial para entender a trama. As críticas são claras e pesadas, mas Watchmen vai muito além disso. Os temas como paranoia governamental, manipulação, corrupção são muito presentes na trama e ainda são temas atuais.
Enquanto nos anos 1980 o inimigo era o perigo de um Armageddon nuclear entre os EUA e a União Soviética, em 2019, na série da HBO, a guerra fria foi substituída pelo conflito racial nos Estados Unidos, algo extremamente relevante.
Embora Watchmen não tenha sido escrito para retratar o bem e o mal como conhecemos, a série faz bem ao se posicionar contra a supremacia branca, vilã do passado, mas que ainda se faz muito presente, infelizmente. Na trama, um grupo terrorista começa uma campanha de terror para impor suas crenças deturpadas.
A série proporciona um olhar inteligente sobre a história racista brutal dos EUA e como as famílias negras de hoje ainda são afetadas pelo terror racista. Mas é também um olhar sobre o racismo no mundo todo. Mostra também como essa luta é importante e atual não só para a série, mas como fica cada vez mais óbvio, também na vida real.
Série
Na trama, situada em uma realidade alternativa onde super-heróis são tratados como bandidos, Watchmen mostra como o universo da HQ evoluiu mais de 30 anos depois do evento catástrofico que impediu uma guerra nuclear.
A primeira temporada de Watchmen mudou muita coisa em relação à HQ, inclusive na questão temática e de conceito, porém foi um ótimo programa de TV.
Não sabemos se haverá uma continuação, já que o criador, Damon Lindelof (The Leftovers), a aponta como uma minissérie que foi encerrada. Mas será que não veremos mesmo uma segunda temporada? Saberemos em breve.
Watchmen está disponível no serviço de streaming HBO GO.
Veja o trailer da série: