Luiz Bolognesi (As Melhores Coisas do Mundo)
Na sala de reuniões da produtora Buriti Filmes, do casal Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi, há uma grande mesa com tampo de mármore e um mural em uma das paredes. Lá, desde a produção de Bicho de Sete Cabeças, o casal – diretora e roteirista – discute o roteiro de todos os filmes que realiza.
Com as páginas distribuídas pela parede, Bolognesi circula com caneta marca texto laranja os principais plots . “Se os intervalos entre pontos de emoção estão muito grandes, opa, aí tem alguma coisa errada”, explica o roteirista ao Cineclick. Um trabalho conjunto de roteiro e pré-edição que resultou em As Melhores Coisas do Mundo, longa que estreia nesta sexta (16/04).
Em uma simpática e esclarecedora conversa de duas horas, Bolognesi deixa transparecer por que os filmes que escreve geralmente passam a sensação de verdade dos personagens. Todos são acompanhados de uma pesquisa dedicada e muito cuidados com a estrutura da história.
Como a conversa com a reportagem foi muito longa, decidimos publicar os principais trechos e dividir a conversa por temas. Confira a seguir:
Qual é a essência de As Melhores Coisas do Mundo?
Que pergunta difícil! Quando escrevi o texto de introdução do roteiro de Chega de Saudade, publicado na Coleção Aplauso, não tinha consciência objetiva. Lá, o que me levou ao interesse pelo filme, muito além do baile, é a sensação de morte quando ela bate à porta. É o fim da vida e tenho medo deste momento. Você tem 70 anos, ano-novo chega e você pensa: “menos um”. Você não acha que está envelhecendo, mas os outros te lembram a toda hora, vem um cara que te chama de “tiozinho” ou pede “posso guardar o carro para o senhor?”. A essência de Chega de Saudade tinha como conflito principal o seguinte: a tua vida foi um mar de alegrias e sofrimento, não necessariamente felicidade, a morte bate à porta e você consegue represar desejo de viver. Como? Como ter desejos adolescentes?
Qual é o momento da vida que é tão forte quanto a morte? A hora que a gente tira o pé da infância e põe no mundo adulto, mas não somos nem um, nem outro. A gente dá esse salto no meio do nada, com hormônios a mil por hora. Acho que este momento interessa fazer reflexão pelo cinema. Para mim, adolescente não é consumidor ou geração perdida na internet. Na verdade, é a gente tirando o pé dos sonhos e das representações mágicas da infância. Quando começa a botar o pé no mundo adulto, que é o espaço da tragédia, da consciência de que o ser humano não é tão legal, de que o planeta está acabando, muitos desencontros. Eu tentei representar esse momento de quem tem um pé na infância e outro no mundo adulto.
Adolescência é sinônimo de ruptura
A gente pode praticar a adolescência em várias fases da vida, pois é a possibilidade do rompimento. Quando alguém vem me dizer que precisa dar remédio para conter a rebeldia dos adolescentes, digo "não", está errado! A essência desse período é romper com o mundo que estava dado e partir para a transformação. Eu posso fazer isso com 20, com 30, com 40, com 60 anos...
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