Olhar de Cinema: um balanço da relevância do festival curitibano
A segunda edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba se aproxima do fim com saldo pra lá de positivo. Nestes dias de imersão cultural o público curitibano pôde mergulhar em propostas diferentes através de filmes alternativos de várias partes do mundo. Cinema que, em geral, dificilmente teria espaço nas salas comerciais do país.
Medir a relevância de um evento como o Olhar de Cinema se atendo apenas a dados numéricos sobre público ou aspectos técnicos como grau de organização seria reduzir a discussão a pormenores - até porque em ambos os quesitos o festival fez bonito. Contextualizar a mostra dentro de um panorama cultural mais extenso nos permite ir além, como fizeram os filmes exibidos aqui ao longo desses dias.
É preciso que se diga que as produções cinematográficas em cartaz no Olhar de Cinema não diferem em nada dos longas-metragens exibidos no circuito comercial quanto à classificação mais abrangente de cultura. E cultura são quaisquer manifestações artísticas resultantes da inteligência humana. É cultura uma comédia besteirol do Adam Sandler como um filme iraniano obscuro de longos planos silenciosos.
Nenhuma definição diz que existe uma cultura boa e outra ruim, mas é fato que socialmente costuma-se dividir a cultura em alta e baixa. Assim, os filmes exibidos no Olhar de Cinema, por exemplo, seriam "alta cultura". O blockbuster em cartaz em 700 salas, a "baixa cultura".
Trata-se de definição que imputa julgamento de valor e reduz a discussão. Quem curte a chamada "baixa cultura" não deve ser esnobado por quem curte a alta e vice-e-versa. O importante é permitir o acesso das pessoas a ambas e eventos como o Olhar de Cinema tem importância por isso.
Costumo resumir os produtos culturais em dois pontos: o conteúdo presente no objeto cultural e o esforço mental exigido para sua compreensão. Assim sendo, filmes como os exibidos no Olhar de Cinema são "alta cultura" no sentido der levar o espectador para um degrau mais alto, ampliando seu repertório e permitindo que tenha uma visão de mundo cada vez mais ampla.
São produçõs que exigem esforço mental para compreendê-las. O que será que o diretor quis dizer? Será que é apenas um idiota pretensioso ou está sendo apenas irônico? É "alta cultura" porque deixa o espectador em estado de alerta intelectual, exercita seu cérebro, incomoda, provoca e traz satisfação intelectual.
"Baixa cultura" é aquela que simplesmente deixa o público onde está ou o faz baixar um degrau. Uma não exclui a outra. Consumir "alta cultura" ajuda até mesmo a escolher a "baixa cultura" que irá se absorver quando se quer apenas bons momentos de entretenimento.
Cultura tem a ver, portanto, com o contexto no qual você escolhe estar. Por isso estão de parabéns aqueles que se deixaram provocar nesses dias pelos filmes exibidos no Olhar de Cinema, evento provocador e essencial que merece vida longa.
Veja a lista de premiados do 2º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba:
-Competitiva Internacional de Longa Metragem
Prêmio Olhar: 74, THE RECONSTITUTION OF A STRUGGLE (Líbano) de Raed Rafei e Rania Raei.
Prêmio Especial do Júri: GREATEST HITS (México/Canadá/Holanda) de Nicolás Pereda.
Prêmio de Contribuição Artística: LEVIATHAN (EUA/Reino Unido/França) de Lucien Castaign-Taylor e Véréna Paravel.
-Competitiva Internacional de Curta Metragem
Prêmio Olhar: OH WILLY (Bélgica/França/Holanda), de Emma de Swaef e Marc James Roels.
Menção honrosa: THE LIZARDS (França) de Vincent Mariette.
Prêmio adicional: Prêmio especial do júri: STRUGGLE (Canadá), de Sophie Dupuis.
-Competitiva Olhares Brasil de Longa Metragem
Prêmio Olhar: KÁTIA (Brasil), de Karla Holanda.
Prêmio de Contribuição Artística: MATÉRIA DE COMPOSIÇÃO (Brasil) de Pedro Aspahan.
Menção Honrosa: A FLORESTA DE JONATHAS (Brasil) de Sérgio Andrade.
-Competitiva Olhares Brasil de Curta Metragem:
Prêmio Olhar: POUCO MAIS DE UM MÊS (Brasil), de André Novais Oliveira.
Prêmio de Contribuição artística: ANIMADOR (Brasil), de Cainan Baladez e Fernanda Chicolet.
Prêmio adicional: Prêmio especial do júri: LINEAR (Brasil), de Amir Admoni.
-Prêmio do Público
Competitiva Internacional de Longa Metragem: ESSE AMOR QUE NOS CONSOME (Brasil), de Allan Ribeiro.
Competitiva Internacional de Curta Metragem: THE LIZARDS (França), de Vincent Mariette.
Competitiva Olhares Brasil de Longa Metragem: KÁTIA (Brasil), de Karla Holanda.
Competitiva Olhares Brasil de Curta Metragem: CALIFA 33 (Brasil), de Yanko Del Pino.
-Prêmio Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema
LEVIATHAN (EUA/Reino Unido/França) de Lucien Castaign-Taylor e Véréna Paravel.
-Prêmio Novo Olhar para o melhor filme da mostra Novos Olhares
CATIVEIRO (Portugal), de André Gil Mata.
-Menção honrosa: NOT IN TEL AVIV (Israel), de Nony Geffen.
Prêmio Júri RPCTV
O CASTELO (Brasil), de Rodrigo Grota.