Tomb Raider: Alicia Vikander fala de Indiana Jones, feminismo e Oscar
A atriz sueca Alicia Vikander, famosa para o público geek por Ex Machina e conhecida pela maioria dos cinéfilos após ganhar o Oscar por A Garota Dinamarquesa, estrela o novo Tomb Raider - A Origem, que estreia no Brasil nesta quinta-feira (15). + Leia a crítica do novo filme
Baseado no jogo mais recente da personagem, o filme mostra uma protagonista mais jovem e inexperiente. E o Cineclick conversou com a atriz em sua visita ao Brasil, durante a CCXP, para saber mais sobre o longa, mas acabamos falando de Oscar, igualdade e muito mais:
Personagem Icônica
A vencedora do Oscar conta que chegou a jogar Tomb Raider na infância. "Eu tinha uns 10 anos quando o primeiro jogo foi lançado e fiquei animada ao ver a primeira protagonista feminina em um vídeogame".
E ela ainda gosta de jogar. "Só que não sei se sou muito boa (risos). Alguns gamers foram no set e eu fiquei nervosa porque eles sabem tudo sobre Lara e foi maravilhoso conhecer fãs que amam essa personagem. Contei para eles como demorei para terminar o jogo, que por sinal, jogava no meu trailer. E eles me disseram: para ser bom você precisa zerar em 24h, mas acho que você vai precisar de alguns dias (risos)", conta.
Empolgada com heroína, ela conta que o histórico negativo dos filmes baseados em videogames não influenciou sua decisão de encarar o papel. "Não fiquei apreensiva, afinal, se tivesse ficado, não aceitaria o papel. Você nunca sabe se um filme será bom ou ruim. Existem muitos processos: roteiro, pré-produção, filmagens, edição, então não poderia dizer se funcionaria ou não, mas eu definitivamente achei que a personagem era muito interessante", conta.
Seu amor por filmes do gênero foi o grande motivo de aceitar a responsabilidade: "Pessoalmente adoro filmes de aventura, não sei quantas vezes assisti Indiana Jones e A Múmia. Amo a cultura egípcia e sempre gostei de história e mitologia. É algo atrativo e adoro imaginar como seria o passado. Então, para mim, entrar nessa aventura foi pura emoção", afirma.
Só que a nova versão da personagem foi um desafio para a atriz sueca. "Sabia desde o início que esse filme teria uma nova roupagem e isso é empolgante, já que ela é uma personagem que muitos adoram e precisávamos ter cuidado e fazer jus a seu legado, mas ao mesmo tempo, tentar entregar algo único e novo", conta.
Lara Croft
Mas a comparação com Angelina Jolie é inevitável. "Quando me chamaram, meu primeiro pensamento foi: mas já não fizeram uma Lara Croft antes? Foi quando me apresentaram o jogo de 2013 e entendi que havia outra versão ali. O foco seria a formação de Lara, sem deixar de lado traços que marcam essa personagem, traços introduzidos nos jogos anteriores", explica.
E sobre a nova Lara, a atriz explica que veremos uma protagonista bem diferente da vivida por Angelina Jolie. "Ela está tentando encontrar a si mesma, ganhar seu próprio dinheiro e encontrar seu lugar. É uma fase difícil. Há muita pressão e, às vezes, as pessoas só precisam de tempo para se conhecerem e saberem qual caminho seguir. Ela vai ao trabalho de bicicleta, divide o apartamento com amigos, algo bem normal para os jovens de Londres, e me incluo nisso. Me identifico com muitos aspectos da sua vida, especialmente, a época em que eu tinha 20 anos e fui morar em Londres. Acho que qualquer jovem vai se identificar".
Vikander se diz inspirada pela personagem. "Lara é muito forte. Eu a admiro por ser uma mulher que sempre segue em frente, mesmo que falhe, sempre com inteligência e humor".
Ação e perigo
O fato dos cenários terem sido construídos deixou a atriz empolgada para viver até as cenas mais perigosas. "O que amo no nosso filme é exatamente o fato de não exagerarem no CGI, porque todos os nossos sets foram construídos e eram extraordinários, gigantescos e você podia caminhar por eles e ver todos os detalhes", explica.
"Walton Goggins e eu conversamos muito sobre como nós amamos esse tipo de filme e como nos sentíamos criança nos bastidores. Um dia eles construíram um cenário enorme cheio de sarcófagos e eu fiquei tão empolgada que parecia uma criança, era uma loucura", revela.
Mas nem sempre a adrenalina era suficiente para fazê-la seguir adiante. "Houve momentos em que pensava: eu deveria estar pulando desse penhasco? Meu corpo está dizendo que não! É claro, algumas coisas dão medo. Mas, por outro lado, você também tem uma equipe incrível cuja principal função é a segurança. O maior tempo é dedicado à preparação, pois isso é o que define um bom trabalho. É passar por todos os estágios e estudá-los passo-a-passo para que, quando você fizer aquele último salto, você ser capaz de saber que tudo vai dar certo e que vocês testaram tudo o que poderia dar errado...".
Olhando para os hematomas em suas pernas, completa: "Mas, sim, minhas pernas ainda parecem as de uma criança de sete anos".
Para viver Croft, Alicia teve que passar horas na academia. "Durante as filmagens, aprendi que demora mais ou menos 3 ou 4 meses para ganhar músculos e apenas duas semanas para perde-los", conta aos risos.
Mas ela teve facilidade para lidar com a parte física. "Meu passado com a dança, mais ou menos 10 anos atrás, me ajudou nesse aspecto. Mas com as cenas de luta e ação aprendi a ter ética de trabalho e, além disso, todos os filmes de ação tem coreografia", completa.
Igualdade
Alicia ainda comentou sobre o papel da personagem diante da importância da igualdade de gêneros. "Lara ainda não viveu grandes aventuras e precisamos cuidar do seu legado, mas, ao mesmo tempo, mostrar coisas novas, ainda mais levando em conta que o mundo mudou daquela época para cá. É uma cena cultural completamente diferente e o filme se conecta melhor com a sociedade atual. Vejo clássicos das décadas de 1980, 1990 e fico chocada com a forma como tratam as mulheres e minorias. Agora estamos fazendo personagens para pessoas que são partes da nossa audiência e do mundo dos jovens. Nosso longa é atual e mostra uma visão brilhante sobre uma mulher jovem", completa.
Vikander participa dos movimentos #MeToo e #Time'sUp, que pedem o fim do assédio sexual e abuso contra as mulheres na indústria do cinema. E ela faz questão de se posicionar sobre o assunto. "O filme foi rodado antes dos escândalos em Hollywood virem à tona, mas os problemas já estavam lá e os últimos meses provaram que a mudança está vindo aos poucos, não só no cinema, mas em todos os lugares. Lembro que quando entrei na indústria, apenas alguns anos atrás, eu vi Jogos Vorazes estrear e fiquei aliviada de finalmente ver uma protagonista mulher em uma grande produção", conta.
A atriz defende cada vez mais filmes com protagonistas femininas. "Esse filme provou que a gente precisa sim contar mais histórias com personagens femininas e é óbvio que elas funcionam também. Sempre pensei em mim como uma mulher consciente e feminista. Ficava triste quando via grandes sequências de ação e nenhuma mulher protagonizando. Vivia nesse mundo achando que essa era a norma", comenta.
Sobre seu posicionamento feminista, ela conta que sempre prestou atenção às mulheres ao seu redor. "Eu tive uma mãe incrível e talentosa, uma professora de dança quando era bem jovem e tenho duas irmãs além de uma melhor amiga que significou muito para mim e com quem eu conseguia me relacionar, apesar das idades bem diferentes. Ela me deu confiança e disse para acreditar em mim mesma", reflete.
Oscar e carreira
Sobre o Oscar, Vikander explica que ainda não sentiu os efeitos da vitória em sua carreira. "Todos os filmes que fiz até agora já estavam planejados. E agora vou tirar minhas primeiras férias em cinco ou seis anos. Comecei a ler roteiros e ter reuniões, mas, para mim, as pessoas com quem vou trabalhar é que me deixam empolgada com um projeto. Está sendo divertido poder escolher", explica.
A atriz comentou ainda sobre o filme que a revelou para o mundo. "Ex Machina foi incrível, pequeno e quase não chega a ser lançado, foi graças ao apoio de pessoas que assistiram em festivais e queriam ver a obra no cinema. É muito bom receber todo o amor das pessoas que gostam desse filme, que fizemos com a ideia de ser um longa indie que ninguém veria", disse.
Alicia ainda explica que sempre procura novas experiências. "É natural que você queira fazer coisas novas em sua carreira e sempre tento fazer algo diferente do que já fiz antes".
Seguindo o caminho de atrizes como Reese Witherspoon e Natalie Portman, que abriram produtoras próprias para financiar projetos com mulheres, a sueca finaliza comentando sobre esse novo caminho que escolheu trilhar. "Amo cinema e não quero simplesmente entrar no final do processo, apenas para os ensaios e as filmagens. Quero estar lá desde o início, desenvolvendo a ideia", finaliza empolgada.
Veja o trailer de Tomb Raider - A Origem e saiba o que achamos do longa com nossa crítica: